terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

TAMBÉM GOSTO DO TORGA

Que não seja por isso, se o gosto pelo Torga é razão para alguns dos seus poemas, pois eu também gosto do Torga.
Aliás conheci em vida o Dr. Adolfo Rocha por volta de 1985 quando por via de uns certos amigos que estudavam na Universidade me deslocava amiúde a Coimbra e frequentava a república "Kimbo dos Sobas"! Uma amiga, de quem vou manter o anonimato, que era uma daquelas pessoas extremamente desinibida e de imaginação fértil e lá arranjou forma de irmos ao seu consultório! O doutor é que não achou graça nenhuma quando ela disse que não havia problema de saúde mas sim curiosidade minha em conhecê-lo! O homem ficou pior que uma barata e quase nos dava dois tabefes, mas eu fiquei feliz, e ainda hoje me lembro do seu olhar faiscante que nos dirigiu. Apesar da sua poesia "Os Contos da Montanha" e "Os Novos Contos da Montanha" são as obras que mais me seduzem!
Mas outra história engraçada, mais ou menos pela mesma época, vivia-a com Natália Correia, Jorge Amado e Zélia Gatai. Este casal vinha a Portugal fazer a apresentação um livro de cada um e a apresentação tinha lugar na Livraria Barata, ali para os lados da Avenida de Roma. Nessa ocasião tinha uma relação de alguma amizade com a Natália e Dórdio Guimarães, pois tinha sido criada uma associação de escritores (AJEP-Associação dos Jovens Escritores Portugueses), da qual a "pitonisa" era a "alma mater", e telefonei ao Dórdio para saber se a Natália (nunca atendia telefonemas) tinha modo de me pôr em contacto com o Jorge! A Natália simpatizava comigo - embora me estivesse sempre a alertar que para se ser escritor não bastava querer, tinha de se trabalhar muito (ler e rascunhar como dizia) - e dispôs-se a tal.
O Jorge e a Zélia iam ficar no Hotel Roma e para lá ficou combinado o encontro e á hora marcada lá estava eu. Depois de uns momentos, meio encavacado, perante a conversa dolente de ritmo baiano do Jorge as risadas vivas da Zélia, as fumaradas da Natalia, na sua elegante e provocadora boquilha, e comentários pacientes do Dórdio, ofereci-me para pagar os cafés. E assim paguei por cinco cafés qualquer coisa como 75$00 (setenta e cinco escudos) quando um café andava por volta dos 3$50/4$00. Nem quero dizer como fiquei atrapalhado... o que vale é que desde muito cedo quando me deslocava (e desloco) a Lisboa sempre tive o hábito de tirar bilhete de ida e volta (no comboio)... mas sem demonstrar a minha aflição... paguei, o que vale é que tive os livros oferecidos e autografados pelos autores. Tive sorte... pois fiquei sem dinheiro para o pagar... estou convencido que a Natália se terá apercebido e terá segredado ao Jorge... de seguida feliz e muito aliviado acompanhei-os à Livraria Barata!
Pois a literatura sempre me seduziu, portanto que venha Torga, Ary, Mourão-Ferreira, que cá estarei para apreciar!
(Este "post" foi alterado em 18/02/2010, por especial deferência de Xaviota que alertou para a existência de um erro num dos nomes referidos)

1 comentário:

Xaviota disse...

A Natália conhecia-a em Óbidos no bar do Montês. Eu teria 15-16 anos bem espigados e ela era um monumento à beleza feminina. Criou-se uma tertúlia de copos e poesia (muito de ambos) em que participavam algumas pessoas na altura ainda pouco conhecidas, mas que vieram a ser figuras públicas por boas e más razões. À meia noite, o Montês fechava a "loja" e cada um de nós recitava e cantava o que lhe dava na real gana, com especial destaque para textos demolidores para o antigo regime . Outras vezes íamos para a Amoreira de Óbidos para uma mansarda da Natália (ou alugada, não sei)e aí até fado se cantava. Artistas como o João Ferreira Rosa e a Maria João Pires (penso que eram casados) faziam as delícias de todos e deixavam deslumbrado um jovem quase imberbe que fazia o seu intróito no campo cultural. Muitos anos mais tarde, revivi algumas dessas pessoas no "Botequim" de que a Natália era sócia no bairro da Graça. Foi emocionante mesmo, pois tinha passado tanto tempo...
Tout s'en va. E há tanto para contar.

E já agora, esse Adolfo melhor fora que em vez de Rocha fosse Dias. Ao menos dava para rir.

Passeio BTT Aboboreiras