segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ENA PÁ

Não tenho tido muito tempo para escrever... mas desta vez tenho de fazer um esforço porque esta coisa que o Egídio aqui colocou é mesmo engraçada. Engraçada pelo facto de se mexer, não pelo facto de termos de ir para nova manifestação, pois neste aspecto a coisa é séria. Aliás acho que mais esta jornada a um sábado tem dois aspectos positivos: Primeiro desmente o discurso de os sindicatos só fazerem manifestações para os dirigentes e trabalhadores terem um dia de folga (que todos sabemos não corresponder à verdade, pois sai-se de casa de manhã e regressa-se às tantas da noite); Segundo prova que a luta dos trabalhadores não tem dia nem hora, mas é um processo permanente e contínuo!
Mas, ena pá (desculpa o termo), Egídio desta vez esmeraste-te!

Dia de Indignação e Protesto

domingo, 27 de fevereiro de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA……. Medo!!!!!!!!!

- Se te pedirem, entrega tudo não reajas, que isto não está para brincadeiras.

Foi com esta afirmação que a filha mais nova da Eva a abordou logo de manhã. A Eva não estava a perceber o que se passava mas a filha explicou:

- Ontem a … (a amiga, da mesma idade da filha) foi abordada na estação do Metro de ...... e recusou-se a entregar o telemóvel, entretanto o comboio chegou e ela pensava que já estava a salvo e foi sentar-se num banco, mas, os assaltantes entraram na mesma carruagem que ela e sentaram-se ao seu lado. Deram-lhe uma senhora tareia. Ninguém interveio mãe e ela fartou-se de pedir ajuda.

- Porque é que ela não se levantou e puxou o alarme?

- Não podia mãe, meteram-na no meio deles e só querias que visses o estado em que chegou à escola, mãe, tinha a cara feita num oito e a roupa rasgada.

- Ninguém a ajudou mãe. Já viste, mãe, o país em que vivemos.

E não fica por aqui, olha mãe, a …… ,visita regular da casa da Eva, também foi assaltada ontem ás oito horas da noite . Levaram-lhe a carteira com o dinheiro.

- Estava sozinha?

- Não mãe estava com o … e o …..

- E eles não fizeram nada?

- Tiveram de entregar as carteiras também.

- Levaram-lhes também os documentos? Perguntou a Eva.

- Nós não andamos com os documentos na mesma carteira mãe . Assim não se perde tudo.

A Eva tentou sossegar a filha dizendo-lhe que não era assim em todo o lado e a filha não se convencia.

- São putos como nós que fazem os assaltos e, não vale a pena reagir porque eles andam armados com navalhas. E não são só os de cor, também andam brancos nos grupos a assaltar.

- Como vocês não são de certeza, argumentou a Eva, tu não andas por aí a assaltar ninguém.

A Eva continuou a conversar com a sua filha. Que com apenas catorze anos já dominava toda uma série de estratégias, que tinha aprendido com os amigos da mesma idade, para não ser assaltada:
- Não trazer o telemóvel na mochila, não trazer o dinheiro todo junto, trazer os documentos noutra carteira, não andar sozinha, não atravessar o jardim mesmo se ainda for de dia, etc. etc. etc.

A Eva lembrou-se dos seus catorze anos e da liberdade que tinha com essa idade e, sentiu pena da sua filha e de todos os que têm de lidar com o medo quando têm é idade para brincar.
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Um abraço
Ana

Os meus poetas.....

Poeminha sobre o Tempo

O despertador desperta,
acorda com sono e medo;
por que a noite é tão curta
e fica tarde tão cedo?

" Millôr Fernandes -Pif-Paf"

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Um abraço e um bom domingo
Ana

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os meus poetas......

Retrato do Herói

Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.

Ary dos Santos, - 'Fotosgrafias'

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Um abraço
Ana

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os meus poetas....

Demissão

Este mundo não presta, venha outro.

Já por tempo de mais aqui andamos

A fingir de razões suficientes.

Sejamos cães do cão: sabemos tudo

De morder os mais fracos, se mandamos,

E de lamber as mãos, se dependentes.


José Saramago, "Os Poemas Possíveis"

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Um abraço
Ana

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Novamente...

Há dias em que a saudade, será da solidão/cansaço, aperta e a lembrança dos amigos, doi.

Ontem foi um desses dias. Cansada, já eram oito da noite, resolvi fazer uma caminhada desde a Assembleia da República até à estação do Rossio. Em vez de apanhar o 28, vim a pé.

Os meus passos levaram-me a passar numa rua onde morei e brinquei em pequena e consegui rever as imagens do passado. Também vi o passado em ruínas, a empresa onde o meu pai trabalhou, fechada, com a fachada completamente degradada!!!!

Ao passar pelo chiado olhei para os armazéns e vieram-me à ideia alguns almoços de sábado. Lembram-se?

Lembrei-me de todos e mais uma vez tentei arranjar justificação para as ausências. Será que existe?

É evidente que alguns de nós criaram expectativas. Criam-se sempre quando damos de nós.O ser humano é assim. Não é preciso muito, às vezes, basta um sorriso para nos sentirmos compensados.

Mas será que a insatisfação sentida por nos terem criado expectativas que saíram goradas, não deveria ser manifestada directamente junto dos que criaram esses mesmas expectativas!!!!!

Não sou de sonhar muito, a dormir, mas ontem sonhei.

Sonhei com o grupo, sonhei com o reencontro tantas vezes adiado. Com o almço que nunca mais acontece.

Será que foi do chiado?

Não, foi porque continuo a tentar que o espirito de grupo se mantenha, continuo a tentar que comuniquemos quanto mais não seja através do blog.

Não há dia que não o abra a ver se há mensagens novas.

Hoje tive uma grande alegria ao ver a mensagem do Jaime, afinal são sempre os mesmos, mas não deixa de ser uma alegria quando se deixam ouvir.

Já chega de lamentações, marquemos o almoço e encontremo-nos.

Um abraço do tamanho do mundo e um beijo para os persistentes

Ana

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mas...Novamente


Amigos, já o expressei nos comentários e volto a fazê-lo aqui. Aquilo que fizeram ao Amigo Egídio, não se faz. É uma desconsideração pela pessoa, mas também pelo "formador".


Mas... peço desculpa pelo afastamento mas acreditem, o trabalho tem apertado muito e muito.

Apesar do IBJC, nunca me ter dito nada, apesar de no início me terem dito que a CGTP tinha muita necessidade de formadores para a região centro (interior), mas...nada.


Hoje marquei as minhas férias, penso que merecidas, e o meu pensamento foi novamente para um jantar que já por diversas vezes esteve para acontecer, mas... nada. Desta vez, e quando chegar o SOL, eu e o Luís marcaremos um jantar tipicamente beirão para que quiser. Nem que sejamos os mesmos sempre disponíveis, mas o jantar vai ocorrer.

Bem prometo vir novamente e com mais tempo.


Ah.... um beijo para a Ana pelos magníficos poetas que nos deixa. E um abraço para todos vós..

Jaime Matos

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

" Os meus poetas"........

Não me Peçam Razões...


Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago em "Os Poemas Possíveis"

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Um abraço
Ana

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma Experiência que chega ao fim...

Amig@s,
Há tempos que não passava por aqui mas tenho lido com todo o gosto as histórias da História que a Ana nos vai contando...
O trabalho a "triplicar" que tenho tido não me tem deixado mnuito tempo, embora isso não sirva de desculpa, confesso.
Da minha parca experiência de formador (50 horas, 50 sessões) com aqueles rapazes e raparigas que vos falei há tempos e apesar de no início ter tido alguma (muita) angustia com aquele processo de gente sem qualquer tipo de interesse por algo, e apesar da primeira avaliação se ter ficado apenas positivo para 1/3 dos participantes, fui conseguindo passo a passo, confesso que com dose de paciência redobrada e também porque alguns desistiram, fazer subir VERTIGINOSAMENTE a turma em interesse e consequentemente na segunda e terceira avaliações. Claro que não estou a falar de pessoas normais mas, considero muito significativa a evolução que venho a verificar. Os 3 Manuais que elaborei deram-me também algum suporte para poder exigir uma atitude mais concertada.

Mas a surpresa aconteceu inesperadamente.
Há umas semanas atrás, depois de um teste em que formandos e formador estavam a fazer considerações sobre o mesmo, sou chamado aos serviços administrativos para atender um telefonema urgente de Lisboa da Directora pedagógica.
A conversa não podia ser mais directa, aliás, feita da mesma forma que lha ordenaram, assim:
Egídio, a partir de hoje você termina a formação para nós! Perguntei se havia alguma causa e a resposta foi também directa: De todos os pontos de vista quer técnicos, quer pessoais não há nada a dizer, antes pelo contrário. Deram-me a informação de que lhe deveria dizer que são ordens do Matos Cristovão e do Álvaro Domingos. Bem...Sem que eu soubesse o que essa gente tem a ver com a formação, ainda perguntei quem são eles porque eu sei quem são, e me disseram que são da Administração do Centro de formação. Pena eu não ter sabido isso antes.
Quem são esses perguntarão vocês... São indivíduos, funcionários da EDP que no tempo do Cavaquismo fundaram um Pseudo-sindicato com dinheiros da EDP e que obviamente pertenciam ou ainda pertencem aos tsd, naturalmente em oposição de fase aos Sindicatos da CGTP.Essa gente que entretanto perdeu toda a expressão na representação de trabalhadores na EDP e na EDA, dedicou-se à formação (negócio chorudo e com intenções duvidosas nas suas ligações aos PALOP), para levarem a vidinha fora da empresa utilizando os tempos sindicais para essa tal vidinha.
Consultando a Internet verifiquei de facto a quem pertencia aquele Centro de formação.

Enfim...fui despedido sem qualquer justificação e aqueles "putos" ficarão entregues sabe-se lá a quem...
É esta gente que tendo este poder, esmaga quem quer...Imagine-se só, aqueles que fazem da formação a sua actividade profissional principal, os "sapos" que terão que engolir vivos.

Assim vai a formação no país de Cavaco e Sócrates.

Um Grande Abraço para tod@s
Egídio

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Histórias de vida - Sobreviver é preciso….

A Eva estava decidida a falar com a Mª José. Não fazia sentido continuar preocupada.

A Mª José parecia-lhe bem mas a rua não era sítio para ninguém viver e embora não fosse rica a Eva sempre podia ajudar, contribuindo com algum dinheiro para a comida.

Naquela manhã tomou a direcção da Praça onde a Mª José costumava, agora, dormir. Viu-a a brincar com o cãozinho em cima do saco cama.

A Eva parou deu-lhe os bons dias, a Mª José voltou-se, e, desta vez , não desviou o olhar respondendo-lhe , também, com um bom dia.

- Como vai não a tenho visto?

- Tenta-se sobreviver.

- Consegue dormir?

- Aos bocados, mas sempre alerta por causa dos perigos que são muitos, nem calcula o que se passa nas ruas à noite.

A Eva insistiu, embora com algum receio, nas perguntas e respostas habituais ,que se podiam resumir em lembrar à Mª José que não devia de desistir, que devia continuar a lutar para sair da rua.

A Mª José respondeu-lhe que não, que não desistia que continuava a tentar obter o rendimento de inserção, visto que até tinha trabalhado durante alguns anos, para conseguir obter um espaço para morar onde pudesse ter o cãozinho consigo.

Referiu, ainda que não havia um abrigo, nem um, que lhe permitisse entrar com o cão, que até é dos pequeninos e que por isso tinha de continuar a dormir na rua.

Conversaram ainda um bocado e a Eva perguntou-lhe se já tinha tomado o pequeno - almoço.

A Mª José respondeu-lhe com um não se incomode e um encolher de ombros.

A Eva entregou-lhe todas as moedas que tinha na carteira e, admirou-se como é que alguém com uma vida tão dura ainda conseguia sorrir com doçura.

- Que Deus a ajude e a abençoe foi a frase que ouviu quando disse que não era para agradecer e que só lamentava não a poder ajudar mais.

Olhou para trás e a Mª José já estava a arrumar a sua casa, a deixar livre a sua porta de loja, não sem antes ter posto a capa no cãozinho para o proteger do frio !!!!!

A Eva lembrou-se então de outro sem abrigo com quem também costumava conversar. noutro lado da Baixa, a quem há falta de saber o nome se habituara, mentalmente, a tratar por Latinhas , e que entretanto tinha conseguido sair da rua .

- O que seria feito dele?

A Eva sorriu ao lembrar-se da flor, feita de lata, que ele lhe tinha oferecido um dia, depois das, muitas, manhãs em que conversaram , sempre, um bocadinho, sobre a vida dele e que enfeitava, agora, a sua secretária.

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Um abraço e deixem-se ouvir

Ana

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os meus Poetas.......

A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.

Miguel Torga – Diário 27/12/1941

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Um abraço Ana

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Histórias de vida ......

A Eva sentia-se muito mas mesmo muito cansada. O mês de Janeiro tinha sido terrível em termos de trabalho e o de Fevereiro ainda se avizinhava pior. Pensava em tudo isto quando às oito e meia da noite se dirigia para a estação do Rossio para apanhar o comboio para casa .

Estava tão cansada que nem lhe apetecia olhar para as montras e nem se apercebia do que a rodeava. Sentia-se alheada apenas com uma ideia determinada: chegar o mais depressa possível a casa e ir dormir.

Tomou o caminho habitual e mais uma vez pensou que rara era a vez que passava por aquele local que não pensasse na Mª José e no seu cãozinho. Há já algum tempo que não a via, nem mesmo no local onde costumava dormir. Como estariam?

Olhou e ao longe pareceu-lhe ver um sem abrigo no sítio da “casa “ da Mª José. Quando se aproximou viu que afinal a Mª José tinha um ou uma vizinha e não pôde deixar de se enternecer com a cena que viu.

A Mª José já tinha a sua cama feita, o saco cama até tinha dobra, como se faz quando se abre a cama em nossa casa, e, estava de joelhos, de costas voltadas para os transeuntes a dar biscoitos ao seu cãozinho que estava deitado com uma mantinha por cima.
Na montra ao lado estava outro, ou outra sem abrigo já a dormir completamente tapado/a.

A Eva sentiu vontade de perguntar à Mª José como ia, mas conteve-se. A oportunidade havia de chegar. A Eva já tinha reparado que a Mª José tinha os seus momentos e que gostava de ser ela a provocar a aproximação e que não gostava que as outras pessoas interferissem na sua vida.

A Eva antes de se afastar olhou, mais uma vez, e reparou que ao lado do saco com comida estava uma chávena com café ….. solidariedade …… quem sabe?

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Um abraço
Ana

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os meus poetas...ps meus poemas...

Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Ámen

“Manuel Alegre - "Chegar Aqui"

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Um abraço
Ana

Passeio BTT Aboboreiras