quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO VIII

A Esperança olhava para o grupo das amigas, sentadas a almoçar, sem as ver, entregue aos seus pensamentos.

Quem diria que a vida lhe reservaria ainda esta surpresa e que seria a sua amiga Sofia a responsável.

“Não há dúvida que a Sofia é muito generosa, sempre foi, não é de agora “pensava a Esperança para com os seus botões.

- Esperança atende o telemóvel, está a tocar. Avisou a Matilde.

Depois de sossegar a filha de que estava tudo bem e de que estava a gostar de Londres, a Esperança continuou entregue aos seus pensamentos.

Mesmo antes de ter recebido a herança, dos pais, a Sofia já era generosa, na disponibilidade de partilhar o seu tempo com as amigas, na disponibilidade para ficar com os filhos das amigas para elas poderem ir trabalhar aos sábados, dia em que não havia escolas abertas, na disponibilidade para despender tempo á procura da prenda certa, na disponibilidade para adoptar uma criança negra,nos anos setenta, o filho de quem ela muito se orgulhava, na disponibilidade para emprestar dinheiro sempre que o mês era mais comprido, etc. etc.

Tão diferentes e todas tão solidárias, a Esperança não sabia dizer quem era a melhor amiga, para ela eram todas iguais.

A Sofia tinha feito sessenta anos e a prenda que dera a si própria tinha sido organizar uma visita a Londres, para si e para as quatro amigas.

- Obrigada Sofia – disse a Esperança.

- Obrigada porquê - retorquiu a Sofia.

- Por nos teres permitido realizar o nosso sonho de adolescentes. Visitar Londres.

A Catarina que até ali tinha estado calada atirou-lhe, provocando-a:

- Não terá sido, antes o teres encontrado o Joaquim no zoo de Londres?

A Esperança sorriu e caiu novamente nos seus pensamentos.

É, tinha sido uma agradável surpresa. Quem diria que o Joaquim podia ser uma boa companhia. Tinham-se encontrado à porta do zoo de Londres, inesperadamente, e tinham feito a visita na companhia um do outro. Tinha sido uma grata surpresa ao fim de tantos anos o Joaquim revelara-se-lhe um óptimo conversador fazendo-a esquecer-se do Joaquim deprimido, que só falava de desgraças e, diga-se de verdade ela evitava encontrar para não ficar deprimida.

-Esperança, chamou a Sofia – Vá, ainda é cedo, anda vamos dar uma volta.

- Não vale a pena Sofia, está noutra, está na Lua, parece uma adolescente apaixonada. Disse a Catarina.

- Quem sabe! Respondeu-lhe a Esperança e continuando:

- São os Segredos do Destino.

FIM

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO (VII)

A Teresa respirou fundo antes de responder à Catarina.

- Não, não fui ao cinema e se tivesse ido?

A vontade dela era dizer à Catarina que o melhor era arranjar outros interesses para além das amigas, pois às vezes cansava, e o pior é que se alguma delas fazia algum programa sem ela amuava.

- Vá lá conta. Voltou a pedir a Matilde.

- No outro dia à saída do cinema, à porta do cinema, na rua, encontrei uma antiga colega dos tempos da escola que me contou que está a participar num projecto muito interessante.

- Que projecto? – Perguntou a Catarina, interrompendo a amiga.

A Esperança tinha vontade de a mandar calar, mas o pontapé que a Matilde lhe deu por debaixo da mesa fê-la parar.

- É um projecto que ela baptizou de regresso à escola. È voltar a estudar.

- Já tenho pensado nisso - disse a Esperança - mas não me vejo com paciência para voltar aos bancos da escola.

A Teresa disse-lhes que já se tinha ido informar e que por agora ia só tentar concluir o 12º ano, que até já se tinha escrito num Centro de Novas Oportunidades e que tinha gostado da entrevista e do “percurso” que teria de fazer para obter o diploma.

A Catarina, não se contendo, disse-lhe:

- Ah, agora já queres voltar a estudar mas quando eu e a Esperança te falámos nisso há uns anos, não quiseste, que não que não tinhas tempo. De onde te vem tanto entusiasmo agora? E, não dando sequer tempo à amiga para responder:

- Vamos mas é escolher para comermos que estou cheia de fome.

- A Sofia ainda não chegou, disse a Matilde, não esperamos por ela?

A Sofia não conseguia nunca cumprir um horário. Ou chegava, muito antes ou muito depois da hora combinada de modo que ninguém tinha estranhado a sua ausência.

Já estavam no café quando a Sofia entrou ofegante.

- Foste correr a Maratona? disparou a Catarina

- Não, respondeu-lhe a Sofia que personificava a calma em pessoa, fui tratar da nossa viagem. Vamos viajar as cinco.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO (VI)

O Joaquim olhou e não queria acreditar no que via. Não podia ser quem ele estava a pensar. Não, não podia ser.
Ainda incrédulo perguntou:

- És o Octávio não és?

- Sou – respondeu-lhe o Octávio dando-lhe um grande abraço - e estou tão contente por te encontrar Joaquim.

- Já jantaste?

- Não, ainda não. Respondeu-lhe o Joaquim

- Anda daí.

O Octávio não deu tempo ao amigo para reagir e dando-lhe o braço encaminharam-se para o primeiro restaurante que encontraram

A meio do jantar, o Octávio que não via o amigo há mais de trinta anos e não cabia em si de contente disse:

- Quem havia de dizer que nos havíamos de encontrar à saída do cinema passados tantos anos e ambos já reformados.

O Octávio confidenciou-lhe que se tinha divorciado há pouco tempo e o Joaquim não conseguiu reprimir o espanto:

- Ao fim de quarenta anos, porquê?

- Casámos muito novos, nunca tivemos filhos e na prática já só partilhávamos a mesma casa. Não fazia sentido os interesses não eram comuns, nem sequer as amizades. Acabámos por crescer cada um para seu lado. Vendemos a casa, que era grande demais e cada um comprou a sua casa, mais pequena e continuamos a ser amigos.

- E como é que te organizas no dia-a-dia?

- Como é que tu te organizas sendo viúvo?

- Mal o que me vale é a lavandaria, sobretudo desde que a minha filha foi para França.

- Por falar em França não queres ir fazer um cruzeiro pela Europa?

Os olhos do Joaquim arregalaram-se:
Um cruzeiro era a sua viagem de sonho mas a sua mulher, sempre adoentada, nunca lhe tinha permitido concretizar esse sonho, e depois sozinho nunca tinha tido coragem.

- Não é muito caro? Perguntou o Joaquim sem saber como esconder o seu entusiasmo

O seu problema nunca tinha sido o de gastar o dinheiro que tinha poupado para uma aflição, mas sim a falta de companhia, pensou ele.

O Octávio continuou a dar detalhes, sobre o cruzeiro, e o entusiasmo era tanto que não se aperceberam que todos os outros clientes do restaurante já tinham saído e que por delicadeza ainda não lhes tinham pedido para sair.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO V

- Não pode ser Esperança, não podes continuar assim, se a vida não muda tens de ser tu a mudar - respondeu-lhe a Catarina.

Estavam nisto quando chegaram as outras amigas e uma delas a Teresa vinha particularmente contente.

A conversa continuou e às tantas a Catarina não se conteve e disse:

- Olhem-me para estas duas almas, a Teresa parece que lhe saiu a sorte grande e à Esperança parece que nem a terminação.

- O que queres - respondeu-lhe a Teresa. Estou mesmo, mas mesmo, muito contente.

- Mau… Há mouro na costa? - Perguntou a Catarina.

- Porque é que para estarmos contentes tem de haver mouro na costa? Perguntou-lhe a Esperança já a começar a ficar irritada.

- Não vejo outra razão para tanto entusiasmo! Respondeu-lhe a Catarina

- Não vês? Ou não consegues deixar de ser Maria Casamenteira respondeu-lhe a Esperança, já irritada.

A Teresa não atava nem desatava, continuava com um sorriso de orelha a orelha sem partilhar com as amigas a razão para tanto entusiasmo.

Vá lá conta - Pediu a Matilde, que até aí se tinha mantido calada a observar as amigas.

- No outro dia à saída do cinema.

- Foste ao cinema e não nos convidaste, disse a Catarina interrompendo-a.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO iv

Naquele dia, o Joaquim, viu um anúncio de um filme e o título mexeu com ele: “Lembra-te de mim”.

- “ O meu problema é lembrar-me demais”. Pensou ele.

-“ Não parar de lembrar-me do passado e não me entusiasmar com o presente esse sim é o meu problema”.

De que tratará o filme? Perguntou ele a si próprio.

Vou? Olhou em volta e decidiu-se. Já estava farto de andar às voltas no Centro Comercial a ver tudo o que já tinha visto.

Dirigiu-se à bilheteira e comprou um bilhete para a sessão que estava quase a começar, a das seis.

Entrou e ficou à espera do arrumador. Olhou em volta e não viu nenhum.

Lá encontrou o seu lugar pensando com os seus botões. – “Já não há arrumadores? Que antigo que eu sou….”

Gostou do filme, uma história de encontros e desencontros. Custou-lhe a aceitar o fim. E, voltou a sentir a mesma mágoa que tinha sentido quando reviu algumas das imagens do 11 de Setembro.

Vinha a sair do cinema quando ouviu chamar:

- Joaquim ó Joaquim.

- Bem me parecia que eras tu.

domingo, 5 de setembro de 2010

SEGREDOS DO DESTINO (III)

- Passou-se. Fiquei em casa a ler e vi as marchas na televisão. - Respondeu a Maria Esperança quando a sua amiga Carolina lhe perguntou como tinha sido o seu Santo António.

- Nem foste dar uma volta? Perguntou-lhe a Catarina, ainda incrédula.

- Onde e para quê? Respondeu-lhe a Maria Esperança.

A Catarina era amiga de infância da Maria Esperança e ultimamente fazia de tudo para que ela voltasse a ter objectivos. Mas, a Maria Esperança não correspondia, não estava preparada para enfrentar esta fase da vida, a reforma juntamente com a viuvez, andava desanimada e triste.

A Maria Esperança tinha pensado que ao chegar a esta fase da vida estaria acompanhada, mas a vida ou quem sabe o destino não quis assim, nem mesmo os netos cá estavam, estavam todos no estrangeiro com os pais.

Pensar ela que sempre tinha tido como adquirido que os filhos iriam ter uma vida mais fácil por terem mais habilitações. Qual quê, três dos seus quatros filhos estavam no estrangeiro e a única rapariga a Ana, também estava a pensar ir para Itália.

Tudo isto passava pela cabeça da Maria Esperança enquanto ouvia a sua amiga a falar, sem escutar absolutamente nada do que ela dizia.

- Acorda Esperança! Estás a pensar em quê? – Perguntou a Catarina.

Em nada. Respondeu-lhe esta.

Tal como acontecia todos os meses, tinham-se encontrado para o seu almoço habitual e estavam, à espera que chegassem as outras três amigas que, ainda, faltavam.

- Que se passa Esperança? Perguntou a Catarina. – Tu não estás bem.

- Sinto-me sem alento, sem vontade para nada. – Respondeu-lhe a Maria Esperança.

Passeio BTT Aboboreiras