Tal como a maioria dos portugueses que utilizam os transportes públicos eu também já estou a começar a criar rotinas.
Tento "apanhar" o comboio no mesmo horário e entro quase sempre na mesma carruagem.
Hoje dei comigo a constatar que já começo a identificar os passageiros:
É o bancário, estremamente bem vestido e que aproveita a viagem para ler, é a mãe e a filha que aproveitam a viagem para dormir, são os putos que frequentam a escola profissional na Reboleira e que deixam vagos uns quantos lugares, é a senhora que aquela hora já vem muito bem maquilhada, etc.
Normalmente eu venho de pé porque não há lugares ,entretida, a escutar os murmúrios das conversas e a tentar perceber qual o estado de espirito daquelas pessoas.
Hoje olhei para uma das paredes da carruagem e li a marca:
SOREFAME - SIEMENS 1997
Pensei : Este comboio foi construído pela minha equipa, a equipa das UQEs
Entretanto o comboio parou na estação da Reboleira e olhei para o espaço onde a SOREFAME existiu durante tantos anos.
Não sei se posso dizer após estes anos, que já não sinto mágoa pelo encerrramento da empresa que quando foi encerrada se chamava Bombardier.
Sempre estive ciente de que a deslocalização da empresa daquele local era inevitável, aqueles terrenos valiam e valem uma fortuna, nunca pensei é que fosse tão cedo e que fosse encerrada.
Voltei a pensar no tema que o Virgilio trouxe para a mesa, o desemprego, e pensei nas pessoas que como eu fizeram parte da equipa que construiu aquele comboio e tantos outros.
Pensei:
Tanta competência desperdiçada, tanto reforma antecipada de pessoas que tanto tinham ainda a dar, a transmitir, tanto sofrimento de toda uma comunidade.
E sim, senti mágoa, pelo destruição de toda uma indústria,pelos nossos governantes tratarem dos assuntos do nosso país "com os pés", expressão que as minhas filhas tanto usam.
Ainda agora na questão da divida externa..... a não saberem defender convenientemente o nosso país entretidos, envolvidos constantemente em tricas......
E pensei que, talvez, alguns dos trabalhadores da Sorefame, sintam o que eu sinto quando ando no Metro, quando atravesso a Ponte sobre o Tejo, quando ando de comboio, quando olho para as barragens espalhadas por todo o país e pelo mundo, que apesar de terem destruído a nossa empresa, tal como fizeram com tantas outras no nosso país não conseguiram nem conseguem destruir o orgulho que eu e certamente tantos outros sentem por termos deixado, TODOS, mas TODOS, um bocadinho de obra feita, por termos feito parte da equipa.
Um abraço do tamanho do mundo.
Ana Fernandes
5 comentários:
Ana
Li agora que trabalhaste na Sorefame. Por acaso lembras-te do Tremoço? da CT? Sabes que ele apesar de viver ainda na Amadora, suponho? tem uma casa numa das freguesias de Óbidos(Olho Marinho).Estou com ele frequentemente.Deu-me alguma ajuda na campanha´em Óbidos. E ainda há dias estivémos a falar sobre a indústria de construção de material ferroviário em Portugal e da grande oportunidade que o País vai perder ao não ter presentemente uma unidade industrial que permita construir em Portugal as composições do combóio de alta-velocidade.
Temos técnicos e capacidade técnica, temos pessoal especializado, contudo, vamos importar ao invés de fabricar.
"Temos técnicos e capacidade técnica, temos pessoal especializado, contudo, vamos importar ao invés de fabricar".
Acrescento eu: temos marcas e patentes para fabricar combóios, temos investigação e desenvolvimento para melhorar combóios e, para finalizar, temos uma imaginação fantástica para criarmos cenários irreais. Ana e José, o que escreveram são histórias da carochinha que é tão rica e bonitinha.
É uma pena que a carochinha não exista.
Que és um retinto reaccionário já nós sabemos. Chato também.Mas que te metas onde não és chamado, já é de mais. E tem tento na língua. Porque falta de educação é isto que andas a fazer. Ou a tua "linhagem" ainda não te permitiu ver isso.
Viva Rui
É verdade trabalhei na SOREFAME muitos e muitos anos.
Comecei a trabalhar lá no dia 02 de Maio de 1972 e foi no dia 2 porque na Sorefame o dia 1 de Maio era feriado, Dia dos Trabalhadores, isto antes do 25 de Abril.
Conheço o Tremoço mas já não o vejo há muitos anos
Quanto ao amigo Xaviota faz-me lembrar aquelas crianças que mesmo sabendo que não têm razão gostam é de se ouvir e, como são do contra, mesmo sabendo que não têm razão, teimam até ao fim.
É pena porque às vezes demonstra que é culto.
Vamos ter um pouco de paciência e aguardar a ver se muda!!!!
Um abraço e Maio está quase aí.
Ana Fernandes
realmente dói a alma quando passamos por algumas estações e vemos material ferroviário ao abandono completo. Se formos a tras-os-montes e repararmos bem, damo-nos conta de um imenso império ferroviário que cavacos e outros que tais, ajudaram a destruir em vez de o dinamizar. Há estações completamente destruídas.
Alegro-me quando vejo uma daquelas máquinas a carvão a funcionar como na linha do Tua.
Quanto ás opiniões do Xaviota e ao comentário da Ana "parece ser culto por vezes"
Acho mesmo que é...
Abraços
ef
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