Naquele início de noite só lhe apetecia andar, deu consigo a calcorrear as ruas da Baixa e a pensar que não era possível em pleno mês de Novembro estar tanto calor.
Quem se deliciava com isso eram os turistas, era vê-los de manga curta a passear pela Baixa com um ar de contentamento, a Eva olhou , em frente, e viu o Castelo de S. Jorge iluminado.
- “Que bonita que é Lisboa” – pensou mais uma vez.
Sem dar conta os seus passos levaram-na para a rua onde a Maria José, a sem abrigo costumava estar, olhou para o relógio da Praça D. Pedro IV e pensou que àquela hora já não era costume encontra-la.
Deu com a Maria José no sítio habitual, mas sentada no chão, com o ar mais triste deste mundo. Aproximou-se e entregou-lhe a moeda habitual e perguntou-lhe como estava.
-Triste. - Respondeu-lhe ela.
- Porquê?
- Ele (cãozinho) está doente.
Efectivamente o cãozinho estava a dormir ao seu colo, e nem quando a Maria José lhe levantou o focinhito, abriu os olhos.
A Eva perguntou-lhe se já o tinha levado ao veterinário e a Maria José mostrou-lhe os medicamentos.
Não quis entrar em pormenores, porque a Maria José dizia, sempre, que o assunto era o cãozinho, que tinha uma senhora sua amiga a quem recorria quando o cãozinho estava doente e de quem recebia sempre ajuda.
Perguntou-lhe se não seria do frio da rua se continuavam a ir dormir ao pé do Aeroporto, no anexo, que lhe tinham dispensado.
O olhar triste e cansado da Maria José desmentiu as suas palavras:
- Que sim que continuavam a ir para lá dormir.
A Eva queria acreditar nisso mas o certo é que a Maria José estava com um ar abatidíssimo, com ar de quem dormia na rua e não num anexo.
A sua, pouca, bagagem, arrumada atrás das suas costas demonstrava a sua condição de sem abrigo.
A Eva não se sentiu com coragem para insistir no assunto. Que direito é que ela tinha de fazer com que a Maria José se sentisse ainda pior.
Perguntou-lhe se continuava a desenhar e a Maria José respondeu-lhe que agora que vinha o Inverno se ia dedicar ao desenho e à pintura.
- Já tem os materiais?
- Não, mas hei-de arranjá-los.
A Eva despediu-se e recomendou-lhe que recorresse à ajuda da Santa Casa, a algum abrigo, enfim que se protegesse.
A Maria José agradeceu-lhe o cuidado e disse-lhe:
- Que Deus a proteja!
E quem é que a protegia a ela? Interrogou-se a Eva, quando se voltou para trás para olhar mais uma vez, a Maria José e o seu cãozinho, e reparou na volta que os transeuntes davam para evitarem aquela mulher, sentada no chão, e de mão estendida.
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