sábado, 13 de novembro de 2010

Histórias de Vida - Medo, racismo ou precaução

Naquele dia, contrariamente ao que lhe era habitual a Eva não se sentou no 1º lugar que lhe apareceu pela frente, quando entrou no comboio.

Parou, olhou em volta e escolheu o local onde se queria sentar, sem antes pensar com os seus botões que estava a ficar medricas.

Na semana anterior tinha perdido por pouco o comboio das 20,00 horas e teve de esperar pelo seguinte.

Quando entrou na carruagem esta estava vazia e sentou-se no primeiro lugar que lhe apareceu. Quando o comboio estava quase a partir entraram três mulheres, negras, que se sentaram nos lugares ao pé da Eva.

A que se sentou ao seu lado, quando o fez, deu-lhe uma cotovelada e, nem se dignou pedir-lhe desculpa.

A que se sentou à sua frente ferrou-se a dormir e ninguém a ouviu durante toda a viagem.
O problema foi o comportamento das outras duas. Iam entretidas a comer castanhas, cruas, a cuspirem as cascas e a Eva continuou a levar cotoveladas durante a viagem.

Cada vez que levava uma cotovelada a Eva olhava para a sua companheira de viagem que nunca se deu ao trabalho de lhe pedir desculpa nem de cuidar se quando cuspia as cascas a atingia.

A situação estava a ficar deveras desagradável para já não falar que conversavam animadamente, aos gritos, mas as em crioulo.

A Eva cada vez se encolhia mais no seu lugar até que a outra mulher que estava sentada ao lado da que dormia, disse meio em crioulo meio em português, para a outra ter cuidado que ainda partia a “branquela”.

Quando ouviu isto a Eva olhou em volta e reparou que 90% dos passageiros da carruagem eram de cor negra e pensou com os seus botões que o melhor era aguentar calada porque ninguém viria em seu socorro se o caldo entornasse.

Quando as duas mulheres saíram a Eva respirou de alívio sem deixar de reparar na sujeira que tinham deixado no chão e nos bancos do comboio.

Olhou para a que estava à sua frente e reparou que tinha um bonito penteado entrançado, olhou melhor e, reparou que no dito cabelo se passeava um bichinho.

- Será algum piolho?

- Mau, mau só me faltava agora apanhar piolhos para completar a viagem.

- “Não, não é racismo mas sim medo” - pensou a Eva com os seus botões - “A partir de determinada hora tenho de começar a ter mais cuidado onde me sento, porque isto hoje, podia ter dado para o torto.”

A Eva recordava tudo isto quando se sentou ao lado de uma mulher de cor, com bom aspecto.

- " Hoje a viagem vai correr melhor"- pensou ela.

- Estarei a ficar medrosa? interrogou-se

- Não, não é medo nem sequer racismo, é, apenas precaução. Concluiu a Eva após se ter sentado.
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Bom domingo
Um abraço
Ana

1 comentário:

efernandes disse...

Sempre tu mesma Ana!
beijinho

Passeio BTT Aboboreiras