sábado, 21 de agosto de 2010

ATÉ SENTI ARREPIOS

Claro que não foi em razão da temperatura, que o calor este ano não tem faltado. Foi por ver aqui o "Cântico Negro" do José Régio, para mim um dos mais belos poemas que alguma vez li, e que de certo modo contribuiu para a minha afirmação como pessoa. A primeira vez que o li tinha entre os 13 e 14 anos, naquela fase logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.
Foi como se de um além qualquer que estava para lá do meu alcance e da minha vista uma voz me dissesse que nunca me deveria deixar sujeitar àquilo que os outros queriam. É certo a época em questão também era propícia a uma certa rebelião e rebeldia quanto aos ditames que uma sociedade conservadora, e disfarçada no ambiente revolucionário, nos queria impor!
Não foi o meu "gripo de Ipiranga", por um lado porque ainda era relativamente novo, e depois porque não era da minha lavra, mas era o "grito de Ipiranga" que eu precisava de ouvir, para me definir como pessoa e quanto aos objectivos que queria para a vida. O "Cântico Negro" foi como uma cartilha que me abriu os caminhos da reflexão, uma aula de filosofia em que todas as dúvidas eram possíveis, mesmo as menos correctas! É certo que na maior parte das vezes não tive grandes razões de alegria por tentar segui-lo... mas ainda assim não o abandono...porque ele é "como um facho (nada de segundas interpretações) a arder na noite escura"!
Obrigado Ana, por o trazeres aqui. Exactamente por isso eu senti um arrepio enorme, como que a dizer-me que a rebeldia tem de continuar a fazer parte da minha realidade. Este é o único poema que sempre declamei quando sou convidado a ir declamar poesia!

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