domingo, 12 de dezembro de 2010

Histórias de Vida - Sensações....

Naquela sexta feira a Eva tinha acordado estranha. Sentia-se a pairar, como se estivesse a observar, à distância, como se estivesse a flutuar como se não participasse no que se passava à sua volta.

Tinha sido assim o dia todo e agora às sete e tal quando se dirigia para a porta do escritório pensou com os seus botões:

- “De certeza que vou ter de cá voltar”

E não é que quando já vinha a descer a rua do Carmo o telefone tocou e lá teve ela de voltar para retirar um cheque do cofre que tinha de ser entregue naquele dia.

Apanhou o comboio mais tarde e como fazia ultimamente escolheu o lugar !!!!

Ao seu lado ia uma senhora a ler e nem quando a Eva pediu licença para se sentar lhe concedeu um simples olhar!

- “Cada um virado mais para dentro que o outro ” - pensou a Eva.

Duas filas à frente reparou numa jovem de cabelo vermelho que se assoava. A senhora da fila ao lado olhou para a Eva e fez um encolher de ombros. A Eva voltou a olhar para a jovem ruiva e reparou que as lágrimas lhe caíam silenciosamente pela cara e que discretamente as enxugava com a mão.

A Eva já tinha estado na mesma situação a chorar num lugar público sem se conseguir conter. A sua vontade foi mudar de lugar, ir sentar-se junto da jovem e perguntar-lhe se podia ajudar mas conteve-se e pensou que se a situação piorasse iria lá oferecer-lhe ajuda.

Foi desviada do problema da jovem por uma serie de vozes femininas que falavam em português do Brasil, mas muito alto. A Eva não tinha nada contra ninguém mas porque raio é que algumas, muitas, brasileiras tinham, sempre de falar tão alto. Era como que dissessem chegámos, vimos e vencemos.

Se lhe perguntassem, a Eva sem olhar era capaz de descrever a maneira como estavam vestidas. Enfim, cada um sobrevive como pode.

E a jovem ruiva continuava a chorar e a mandar mensagens pelo telemóvel.

Na estação seguinte entrou um homem na casa dos trinta anos com uma mala de viagem de um tal tamanho que a Eva deu consigo a sorrir e a pensar que não era ele que trazia a mala mas sim o contrário. Reparou que a mala não estava devidamente fechada e pensou:

- “ Será que saiu de casa à pressa. Que foi uma daquelas separações de que agora tanto se fala por causa de alguma brasileira?” – Será?

Estava quase a chegar à sua estação e a Eva reparou que o homem na casa dos trinta também ia sair.

Olhou uma vez mais para a jovem ruiva e achou-a mais calma.

O homem passou pela Eva arrastando a mala e dirigiu-se para a outra porta mais distante.

A Eva sorriu e pensou:

- “ Vou deixar-me ficar para trás para ver se está alguém à sua espera”.

Na plataforma estava uma mulher com uma saia mais curta do que o habitual com ar de quem estava à espera.

- “Deve ser brasileira pensou a Eva”.

A Eva abrandou o passo, olhou para trás e viu o tal homem beijar a tal mulher.

Abrandou, ainda, mais o passo de forma a deixá-los passar por ela e não é que a mulher falava português do Brasil !!!!

Os beijos que deram até saírem da estação foram mais que muitos.

-“Que sejam felizes” pensou a Eva enquanto passava por eles.

Sem comentários:

Passeio BTT Aboboreiras