quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Histórias de Vida…” O Direito à Diferença”



Quando os viu a abraçarem-se na estação do Rossio estava longe de imaginar o drama que esse episódio iria originar.

Já estava sentada, entretida a enviar mensagens, à sua filha mais nova, à espera que o comboio das 18h e 11m partisse, quando ouviu uma gritaria mesmo ali ao lado.

Pensou que tinha sido alguém que, na pressa de ainda apanhar o comboio, tivesse dado um encontrão, sem querer, e que o barulho fosse por isso.

Mas não, era um indivíduo de cor e, outro branco, a insultar um dos jovens que ela tinha avistado à pouco a abraçarem-se.

Os disparates e as ordinarices choviam.

Alguém ao seu lado dizia:

“ Sempre houve homossexuais mas agora é mais às claras”.

É, era um casal de adolescentes, rapazes, que ela tinha visto a abraçarem-se.

O jovem resolveu mudar de carruagem e nem sequer lhes respondeu.

Entretanto resolveram que a coisa não acabava ali e ouviu-os dizerem que ele, o jovem, ia levar tantas, que ia passar a gostar de mulheres.

Quando eles foram á procura do jovem, perguntou em voz alta:

- Ninguém vai fazer nada?

Não obteve resposta.

Não aguentou mais e foi à procura, não deles, mas do jovem.

Claro que os encontrou, armados em covardes, à espera de uma oportunidade de que o jovem ficasse sozinho para o espancarem.

Ficou de pé, ao pé do jovem, e entretanto registou no telemóvel o nº da polícia que estava afixado no comboio.

O jovem pediu-lhe licença, passou por ela, e foi-se sentar num lugar que entretanto vagara.

Um dos homens, o de cor, entretanto estava ao telefone a organizar o esquema para ir “- ensinar o puto a gostar de mulheres.”

Entretanto o outro homem, fez menção de sair e o “justiceiro” disse alto e bom som:

- Então deixas-me sozinho para ir arrear no gajo?

Assim que teve oportunidade sentou-se junto do jovem e perguntou-lhe em que estação ia sair e se tinha alguém a sua espera.

No decurso da conversa, sugeriu-lhe que saísse com ela na estação em que ela costumava descer, porque certamente o outro indivíduo, não iria fazer-lhe mal se ele estivesse acompanhado e na estação estava sempre polícia.Aí esperariam juntos pelo próximo comboio e o jovem seguiria em segurança.

Claro que o energúmeno quando viu que o jovem ia sair acompanhado não fez menção de o seguir.

Pelo sim pelo não certificou-se de que ele não tinha saído antes de deixar o jovem na estação, e sem antes lhe recomendar que não ficasse isolado que se fosse pôr perto de umas senhoras que estavam à espera do comboio.

O jovem agradeceu-lhe muito e ela respondeu-lhe que não era para agradecer que também tinha filhos e que não gostaria que eles fossem ameaçados e que ninguém os defendesse.

Ao chegar a casa lamentou-se de não ter pedido o nº de telemóvel ao jovem porque continuava preocupada e gostaria de saber se tinha chegado bem a casa.

- Não tiveste medo mãe? – Perguntou-lhe a sua filha mais nova.

- Não nem me lembrei de que eventualmente me estava a pôr em perigo lembrei-me sim, que a minha geração tinha passado por tanto que tínhamos lutado tanto e que tínhamos que ser ainda e sempre os mesmos, a defender os direitos mesmo este simples direito.

- “O direito à diferença.”





1 comentário:

efernandes disse...

Viva Ana, Há tempos que não aparecias...
Eu tenho um mail que te envio mas que por qualquer motivo volta para trás.

Sobre o que escreves, é um assunto que para mim foi difícil de "digerir" quando uma vez vi em madrid à porta do metro estação sol, uma cena que à 1ª vista não deveria achar nada de estranho mas, fiquei "atónito"!
Claro que reconheço as diferenças e o direito de todos e de cada um, claro que sou um lutador pela liberdade, claro que não preciso de me justificar mas...

Um beijo

Passeio BTT Aboboreiras