sábado, 31 de dezembro de 2011

Uma pequena Esperança

Hoje lembrei-me da frase:


"-Uma pequena esperança, mesmo uma esperança sem esperança, não prejudica ninguém."

"John SteinbecK"


Eu acrescento muita ESperança e sobretudo muito Empenhamento e Muita LUTA, para que não percamos tudo aquilo porque lutámos tanto.

Um abraço do tamanho do mundo e um Feliz Ano Novo.

Ana

sábado, 17 de dezembro de 2011

Histórias de Vida – “…. vidas assim…..”




Só se lembrava de se sentir assim no Natal a seguir à morte do seu Pai. Olhava e não via, não queria sentir.

Pensava: - "há que seguir em frente"

Mas a tristeza não lhe dava paz.

Continuava a ir por ruas, caminhos diferentes, para que a monotonia da vida não lhe pesasse ainda mais.

Naquele dia tinha resolvido ir ver o Tejo antes de ir trabalhar e como sempre era muito cedo.

Dirigiu-se, sem saber porquê para a Rua Augusta. A meio da rua avistou um cãozinho a brincar. Pareceu-lhe que o conhecia. É, pois é, era o cãozinho da sem abrigo da Maria José.

Estranhou, parou e olhou a ver se a via. Lá estava ela a sair do seu saco cama, colocado numa montra recuada.

Olhou melhor e reparou que num saco cama ao lado estava a levantar-se um jovem com ar de quem estava há pouco tempo a viver na rua.

Nunca a tinha visto acompanhada. Solidariedade ?? Protecção???

Não tinha que saber, tinha voltado para a rua. Não se lhe dirigiu porque da última vez que tinham conversado ela já estava a trabalhar a dias e agora ao vê-la ali, assim, não sabia o que lhe dizer.

P…. de vida pensou. O que teria acontecido?

No outro dia voltou a passar por lá, ainda mais cedo. E viu o mesmo quadro. A Maria José a dormir no seu saco cama e separados pelos seus haveres, num outro saco cama o mesmo jovem.

Olhou e deu consigo a pensar porque será que há vidas assim?

______________________________________________________________

Um abraço
Ana

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mais uma vez é...Natal



É Natal.



Como disse Mary Chase: "Natal não é uma data...é um estado da mente".



Caros Amigos, Desculpem.



desculpem por esta falta de consideração e de presença.



Como disse a Ana, à uns tempos "... a vida é dura...".



A vida às vezes torna-se mais atarefada e, quando damos por isso, estamos sem tempo para estar com os amigos e poder disfrutar deles a da sua comp+anhia.



Hoje, passei aqui. Fiquei triste.



Comigo, pois já à muito tempo que não aparecia nem que fosse para dizer olá. Com, os outros pois também poucos aparecem. Lembro-me das pessoas, de todas, mas será que todas se lembram de nós?



Queria neste nosso espaço, desejar para todos um Feliz Natal, com muita Saúde e Paz. Tudo de Bom.



Beijos enormes para a Ana, e um grande abraço, para o Egídio, o Zé, o Nuno, o Virgílio, o Luís e desculpem-me, para todos os outros, que apesar de menos se mantêm por aqui ou por ai.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

Os meus Poetas - "Semear a Esperança"


“- Lavro aqui mais uma vez o meu protesto contra toda esta filosofia do pessimismo que nos sufoca, e esta literatura do absurdo que nos liquida. Nenhum argumento nem nenhum sortilégio podem apagar no espírito do homem a luz de ilusão que ali bruxuleia. O erro grosseiro dos ironistas e dos derrotistas é não verem que eles próprios desmentem o visco e as profecias, porque, se lutam, é porque confiam. Sobretudo parece-me uma limitação querer fotografar para a eternidade a face monstruosa de um momento. A Europa pode estar cansada, falida, contaminada por vícios incuráveis, mas a Europa não é o mundo, e ela própria tem ainda pedaços do corpo sem gangrena. Quando todos os analfabetos e famintos que lhe restam tiverem voz e pão, e falem de náusea, quando a herança da história, os bens do espírito forem repartidos igualmente por todos os seus filhos, e o clamor colectivo seja de teimosa renúncia, então sim, soou a hora. Mas antes disso, não!

.......

Há ainda uma poda que é necessário fazer: eliminar da actual angústia que nos atormenta o cinismo que a macula e o parasitismo que a explora. A verdadeira razão e o verdadeiro instinto mandam curar as feridas. Só os mendigos deitam sal nas chagas para as avivar.

Alienação humana! Quem é que autorizou meia dúzia de intelectuais impotentes a falar deste modo em nome da humanidade? A chapinhar na lama deles, e a proclamar que é na lama dos outros? Que o testemunho da nossa aventura na terra é um rosário de traições e injustiças, ninguém o nega; que é preciso que se diga isso de todas as maneiras, é evidente; mas nem tudo o que fizemos foi mau, e estamos a começar ainda.

Não! Há-de haver uma salvação possível neste mar de naufrágios, e vão sendo horas de erguer a voz contra os derrotistas da jangada. Aterrados pelas suas fúnebres ladainhas, temo-nos esquecido de reparar nos acenos do horizonte, onde amanhece sempre uma ilha à nossa espera. Não a ilha solitária de Robinson, que seria o recomeçar inútil duma vida de egoísmo e de esterilidade, mas o húmus generoso dum novo mundo onde se possa semear a esperança.”


Miguel Torga – Diário Volumes V a VIII (08/02/1951)

____________________________________________________________________

Um abraço do tamanho do mundo.
Ana

sábado, 17 de setembro de 2011

" O direiro à diferença"- Resposta a um amigo



Já ontem, achava eu, te tinha respondido, mas a mensagem deve ter–se perdido pelo caminho.

A primeira vez que vi um casal de homossexuais a beijarem-se foi num aeroporto, em Berlim, há muitos, muitos anos, o que achei estranho não foi o gesto deles foi sim a indiferença das pessoas, se fosse em Portugal não faltariam murmúrios.... e olhares de esguelha…..

Compreendo a tua posição e o incómodo que sentes, mas os homossexuais são tão seres humanos como todos nós. Não há seres humanos de 1ª e de 2ª.

O que me choca, às vezes, é ver casais, de heterossexuais, sem a noção do que é a via pública, tão entusiasmados que estão que acabam por perder o respeito por si próprios ao exporem toda a sua intimidade.

Lembras-te que antes do 25 de Abril quase que não se podia andar de mão dada na rua!!!!

O que estava em causa no episódio que relatei é a liberdade de um cidadão de assumir as suas opções, sejam elas quais forem, sem ser ameaçado.

A minha consciência de cidadã e de mãe, não me ia permitir pactuar com a indiferença geral face às agressões verbais, de que aquele jovem foi vitima e, às agressões físicas que, segundo os “justiceiros”se lhe iriam seguir.

A surdez emocional está a tomar cada vez mais conta do nosso País, a tendência geral é olhar, ouvir, para dentro…….tudo o que nos ponha em risco, seja ele qual for, a opção , generalizada, é olhar para dentro, é como no velho ditado português, que eu detesto

- “Ser cego, mudo e surdo”

A continuarmos assim não vamos chegar a lado nenhum.

A minha esperança é:

Esperança

Canto.
Mas o meu canto é triste.
Não sou capaz de nenhum outro, agora.
Em cada verso chora
Uma ilusão,
Tolhida na amplidão
Que lhe sonhei…
Felizmente que sei
Cantar sem pressa.
Que sei recomeçar…
Que sei que há uma promessa.
No acto de cantar…
- Miguel Torga – Antologia Poética”


__________________________________________________

Um abraço do tamanho do mundo

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Histórias de Vida…” O Direito à Diferença”



Quando os viu a abraçarem-se na estação do Rossio estava longe de imaginar o drama que esse episódio iria originar.

Já estava sentada, entretida a enviar mensagens, à sua filha mais nova, à espera que o comboio das 18h e 11m partisse, quando ouviu uma gritaria mesmo ali ao lado.

Pensou que tinha sido alguém que, na pressa de ainda apanhar o comboio, tivesse dado um encontrão, sem querer, e que o barulho fosse por isso.

Mas não, era um indivíduo de cor e, outro branco, a insultar um dos jovens que ela tinha avistado à pouco a abraçarem-se.

Os disparates e as ordinarices choviam.

Alguém ao seu lado dizia:

“ Sempre houve homossexuais mas agora é mais às claras”.

É, era um casal de adolescentes, rapazes, que ela tinha visto a abraçarem-se.

O jovem resolveu mudar de carruagem e nem sequer lhes respondeu.

Entretanto resolveram que a coisa não acabava ali e ouviu-os dizerem que ele, o jovem, ia levar tantas, que ia passar a gostar de mulheres.

Quando eles foram á procura do jovem, perguntou em voz alta:

- Ninguém vai fazer nada?

Não obteve resposta.

Não aguentou mais e foi à procura, não deles, mas do jovem.

Claro que os encontrou, armados em covardes, à espera de uma oportunidade de que o jovem ficasse sozinho para o espancarem.

Ficou de pé, ao pé do jovem, e entretanto registou no telemóvel o nº da polícia que estava afixado no comboio.

O jovem pediu-lhe licença, passou por ela, e foi-se sentar num lugar que entretanto vagara.

Um dos homens, o de cor, entretanto estava ao telefone a organizar o esquema para ir “- ensinar o puto a gostar de mulheres.”

Entretanto o outro homem, fez menção de sair e o “justiceiro” disse alto e bom som:

- Então deixas-me sozinho para ir arrear no gajo?

Assim que teve oportunidade sentou-se junto do jovem e perguntou-lhe em que estação ia sair e se tinha alguém a sua espera.

No decurso da conversa, sugeriu-lhe que saísse com ela na estação em que ela costumava descer, porque certamente o outro indivíduo, não iria fazer-lhe mal se ele estivesse acompanhado e na estação estava sempre polícia.Aí esperariam juntos pelo próximo comboio e o jovem seguiria em segurança.

Claro que o energúmeno quando viu que o jovem ia sair acompanhado não fez menção de o seguir.

Pelo sim pelo não certificou-se de que ele não tinha saído antes de deixar o jovem na estação, e sem antes lhe recomendar que não ficasse isolado que se fosse pôr perto de umas senhoras que estavam à espera do comboio.

O jovem agradeceu-lhe muito e ela respondeu-lhe que não era para agradecer que também tinha filhos e que não gostaria que eles fossem ameaçados e que ninguém os defendesse.

Ao chegar a casa lamentou-se de não ter pedido o nº de telemóvel ao jovem porque continuava preocupada e gostaria de saber se tinha chegado bem a casa.

- Não tiveste medo mãe? – Perguntou-lhe a sua filha mais nova.

- Não nem me lembrei de que eventualmente me estava a pôr em perigo lembrei-me sim, que a minha geração tinha passado por tanto que tínhamos lutado tanto e que tínhamos que ser ainda e sempre os mesmos, a defender os direitos mesmo este simples direito.

- “O direito à diferença.”





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Histórias de Vida…. KEEP CALM AND CARRY ON….Mantém-te Calmo/a e segue em frente..



Esta frase não lhe saía da cabeça. “Mantém-te calmo/a e segue em frente”.

Tinha sido criada, durante a 2ª Guerra Mundial, pelo Ministério da Defesa Inglês, para levantar o ânimo aos cidadãos face à brutalidade dos bombardeamentos de que as cidades inglesas eram vítimas.

Não conseguia manter-se calma e, muito menos seguir em frente sem se sentir frustrada e sobretudo humilhada. Todos os dias tentava, mentalizar-se que a situação em Portugal havia de melhorar, mas a desilusão com o que a rodeava era cada vez maior.

Tudo pelo que a sua geração tinha lutado e que tinha custado tanto a conquistar, estava a um passo de se desmoronar.

Direito ao trabalho, direito à saúde, direito à educação, direito a uma reforma digna após anos e anos de trabalho. Todos os dias acordava a pensar qual seria a surpresa que o Governo lhe/s reservaria naquele dia qual seria o direito que o governo lhe/s iria tirar nesse dia?

Já não podia ouvir o argumento de que teríamos de fazer sacrifícios pelo futuro, a bem das novas gerações.

Que futuro? Onde estavam os empregos para as novas gerações? NO estrangeiro?????

Como se podia pensar em futuro se as medidas que o governo tomava eram as mais fáceis. Apenas, e apenas, se limitava a aumentar os impostos ?????

Mais uma vez sentiu náuseas ao ouvir o Ministro da Defesa. A culpa é sempre dos outros !!!!!!

Que POPULISMO !!!!!!!


Do acordo com a TROIKA só tinham retido o que lhes interessava, o aumento dos impostos para aumentar a receita.

Não era ingénua ao ponto de pensar que, no imediato fosse possível criar novos empregos, mas que pelo menos não aumentassem o desemprego ou que o tentassem reduzir por pouco que fosse.

Onde estava o tão apregoado orçamento de base zero na base do qual iriam governar ????

Será que o Senhor primeiro - ministro já se esqueceu do que disse?

Seria só ela que sentia náuseas cada vez que os ouvia falar?

O discurso do “Pontal” tinha-a tirado do sério. Deu consigo a falar sozinha para a televisão aos gritos.

- Vá, diga lá onde é que cortou na despesa? Diga? Onde estão as medidas de fundo?

Claro que não obteve resposta, nem ela nem os milhares de portugueses que iriam ficar sem uma parte do seu Subsídio de Natal e que cada vez tinham menos dinheiro para os bens essenciais!!!!

Calma, iria manter-se certamente, seguir em frente também, mas não iria deixar, por preço algum, de manifestar a sua opinião de que as medidas eram injustas e apenas superficiais, embora lhe começasse a dar vontade de fugir para bem longe daqui.

Porque que é que só os rendimentos de trabalho eram penalizados? Onde estava a contribuição dos rendimentos de capital para ajudar a superar a crise?
Certamente que não estava na venda do BPN a preço de saldo !!!!

-“Mantém-te calma e segue em frente, mas não deixes que te calem, nunca desistas do direito à indignação”- deu consigo a pensar, quando desligou a televisão farta de ouvir tanta baboseira.. KEEP CALM AND CARRY ON!!!!!!

-------------------------------------------------------------

sábado, 6 de agosto de 2011

Os meus Poetas....




“Não há volta a dar-lhe. Neste pobre País, por maior que seja a infâmia, é escusado esperar de alguém qualquer assomo de repulsa. Todos fazem de conta. O aviltamento chegou a tal ponto que já nem a natural revolta dos ofendidos se entende. Temos ainda o nome de homens. Mas perdemos o mais elementar dos seus atributos, aquele que o próprio Cristo assumiu, com todas as consequências: a capacidade de indignação.”



Miguel Torga – Diário( Janeiro 1979)
___________________________________________________________________________

Os meus Poetas.....


“Não há volta a dar-lhe. Neste pobre País, por maior que seja a infâmia, é escusado

esperar de alguém qualquer assomo de repulsa. Todos fazem de conta. O aviltamento

chegou a tal ponto que já nem a natural revolta dos ofendidos se entende. Temos

ainda o nome de homens. Mas perdemos o mais elementar dos seus atributos, aquele que

o próprio Cristo assumiu, com todas as consequências: a capacidade de indignação.”

Miguel Torga – Diário( Janeiro 1979)

____________________________________________________________________________

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os meus Poetas..........Esperança..."


Esperança


Canto,

Mas o meu canto é triste.

Não sou capaz de nenhum outro, agora.

Em cada verso chora

Uma ilusão,

Tolhida na amplidão

Que lhe sonhei…

Felizmente que sei cantar sem pressa.

Que sei recomeçar…

Que sei que há uma promessa

No acto de cantar…


"Miguel Torga - Antologia Poética

____________________________________

domingo, 24 de julho de 2011

Os meus Poetas...... Tristeza


"Anunciam os sociólogos o advento próximo de uma humanidade sem alma, de superfície, fútil, a viver despreocupadamente o quotidiano, feliz, liberta de inquietações de qualquer ordem, politicas, morais, religiosas ou cívicas. Cada qual contente da sua condição singular, alheio ao poder, à autoridade, aos problemas do mundo. E fico-me a pensar no qual será o amanhecer desse feriado egotista no longo calendário agitado do tempo. É que pergunto a mim mesmo se, depois dele, os pesadelos que agora nos afligem não voltarão redobrados. Quanto mais profundamente se dorme, mais estremunhado se acorda com a realidade. Ninguém vive indefinidamente entre parêntesis"

Miguel Torga - Diário 1988


__________________________________________________

Será que não é por a Humanidade estar cada vez mais voltada para si mesma que acontecem desgraças como a que aconteceu na Noruega?

Um abraço do tamanho do Mundo e sejam felizes.
Ana

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Os meus Poetas ......... Sátira"

Sátira


Disse então aos tiranos!

Que pequena e mesquinha humanidade

A vossa!

Horas dias e anos

De crueldade,

Para que ninguém possa

Gritar que passais nus pela cidade!


Miguel Torga – Antologia Poética

____________________________________________________

Um abraço
Ana

Ps - Se virem por aí alguma lista dos produtos que os reformados e pensionistas estão a fazer para gastar os 4 euros do aumento, enviem-ma sffavor !!!!!!

Como Vão!!!

Olá caros Amigos, como vão?
Há já muito tempo que não vinha a estas paragens. Sem desculpas, mas com a noção que faltava algo que me completasse, pois, apesar do tempo e distância os sentimentos mantêm-se.
Não tenho a sorte do Egídio ou da Ana, do Zé Rui e do Virgílio ou até mesmo do Nuno, que se vão vendo com frequência lá para os lados da CGTP, vou vendo o Luís...
No outro dia ia para o sul, rolando, quando passei pela placa que dizia Sines e lembrei-me do meu Amigo Egídio. Também a ver a televisão vi o Zé Rui, da comissão dos utentes por causa do comboio....
Desta vez, só para dizer que por cá continuo. Com saudades dos Amigos e com imensa vontade de vos ver

domingo, 17 de julho de 2011

Os meus Poeta... Para um amigo......"

Para um Amigo Tenho Sempre



Para um amigo tenho sempre um relógio

esquecido em qualquer fundo de algibeira.

Mas esse relógio não marca o tempo inútil.

São restos de tabaco e de ternura rápida.

É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.

É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.


António Ramos Rosa - "Viagem Através de uma Nebulosa

___________________________________________________________
Lembram-se da Mesa 6?
Um bom domingo e um abraço do tamanho do mundo para todos, com muitas, mas mesmo muitas saudades.

Ana

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os meus Poetas .... Os Grandes Indiferentes


Os Grandes Indiferentes

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.


À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.


Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Trespassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.


Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao reflectir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.


Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.


Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Para o efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predilecto
Dos grandes indif’rentes.•
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.


Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós -próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.


Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.


O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.


A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.


Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.


Ricardo Reis - "Odes"

_______________________________________________________

Desculpem a repetição, mas é como sinto que os politicos (leia-se europeus) estão em relação aos países ditos "periféricos".


Um abraço do tamanho do mundo

Ana

PS - Deixem-se ouvir. Onde para o grupo?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Os meus Poetas......Depoimento

Depoimento


Deponho no processo do meu crime.

(Sou testemunha

E réu

E vítima

E juiz.)

Juro

Que havia um muro,

E na face do muro uma palavra a giz.

MERDA ! – lembro-me bem.

- Crianças……- disse alguém

Que ia a passar.

Mas voltei novamente a soletrar

O vocábulo indecente.

E de repente,

Como quem adivinha,

Numa tristeza já de penitente,

Vi que a letra era minha.


Miguel Torga – Antologia Poética


____________________________________________

Egidio
A tristeza do o que se passa no País põe-nos doentes.
Um abraço do tamanho do mundo.
Ana

Na Sexta fui à CGTP e Estive com a Ana

De facto!
Tive que passar na CGTP para trazer uns documentos que o Hugo Dionísio tinha para me entregar e, à Saída (hora do Almoço), encontrei a minha Amiga Ana Fernandes.
Estavas um pouco triste, dizias doente...
Desejo-te o ânimo que sempre tens demonstrado ter e que de algum modo vais puxando outros para cima.
Um abraço.
PS: Ah...Imperdoável. Na CGTP estive também com o Nuno Paulo. Um abraço para ele também

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Histórias de Vida …… Lembranças… Será que nada mudou? Será?


A lembrança não lhe saía da cabeça. Cada vez que se falava no “Estado Social” e nos custos com o Sistema de Saúde a lembrança voltava.

Não devia ter, ainda, seis anos e tinha ido com sua mãe a mais uma consulta da especialidade de Otorrino no Hospital de S. José.

Não se lembrava da consulta, nem sequer se era médico ou médica quem a tinha consultado. Lembrava-se, sim, de ter ouvido dizer que tinha de ser operada à garganta porque passava a vida doente, com problemas do aparelho respiratório.

No final da consulta tinha ido com a sua mãe à secretaria e tinha retido que era preciso tratar de um documento, qualquer, na Junta de Freguesia para poder ser operada.

No caminho perguntou à sua mãe o que é que tinham de ir tratar e ela tinha-lhe respondido que era um documento para não terem de pagar, a operação, no hospital.

À noite ouviu-a dizer ao seu pai que tinha de ir pedir um “ATESTADO DE POBREZA” para ela poder ser operada.

Hoje, ao recordar-se, disso, não sabia se esse “Documento” tinha sido obtido ou não mas sabia que a operação não se tinha concretizado.

Viviam do trabalho do seu pai, motorista de profissão, e certamente não teriam dinheiro para custear a operação.

Só foi operada já era uma jovem adulta, depois do 25 de Abril !!!!

Agora passados quase cinquenta anos tinha-se lembrado disso……

Será que é a esse estado de coisas que querem voltar quando pretendem acabar com o Sistema Nacional de Saúde ??? Será que nada mudou? Será?

____________________________________________________________________

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os meus Poetas ... Os erros"


Os Erros


A confusão a fraude os erros cometidos

A transparência perdida — o grito

Que não conseguiu atravessar o opaco

O limiar e o linear perdidos



Deverá tudo passar a ser passado

Como projecto falhado e abandonado

Como papel que se atira ao cesto

Como abismo fracasso não esperança

Ou poderemos enfrentar e superar

Recomeçar a partir da página em branco

Como escrita de poema obstinado?


"Sophia de Mello Breyner - "O Nome das Coisas"
_____________________________________________________

domingo, 19 de junho de 2011

os meus Poetas....Com fúria e Raiva"



Com Fúria e Raiva



Com fúria e raiva acuso o demagogo

E o seu capitalismo das palavras



Pois é preciso saber que a palavra é sagrada

Que de longe muito longe um povo a trouxe

E nela pôs sua alma confiada



De longe muito longe desde o início

O homem soube de si pela palavra

E nomeou a pedra a flor a água

E tudo emergiu porque ele disse



Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra

E da palavra faz poder e jogo

E transforma as palavras em moeda

Como se fez com o trigo e com a terra


"Sophia de Mello Breyner Andresen -"O Nome das Coisas"

___________________________________________________________

domingo, 12 de junho de 2011

Os meus Poetas .... Não Passarão



Não Passarão

Não desesperes, Mãe!

O último triunfo é interdito

Aos heróis que o não são.

Lembra-te do teu grito:

Não passarão!



Não passarão!

Só mesmo se parasse o coração

Que te bate no peito.

Só mesmo se pudesse haver sentido

Entre o sangue vertido

E o sonho desfeito.


Só mesmo se a raiz bebesse em lodo

De traição e de crime.

Só mesmo se não fosse o mundo todo

Que na tua tragédia se redime.


Não passarão!

Arde a seara, mas dum simples grão

Nasce o trigal de novo.

Morrem filhos e filhas da nação,

Não morre um povo!


Não passarão!

Seja qual for a fúria da agressão,

As forças que te querem jugular

Não poderão passar

Sobre a dor infinita desse não

Que a terra inteira ouviu

E repetiu:

Não passarão!



“Miguel Torga – Antologia Poética”

______________________________________________________

quarta-feira, 8 de junho de 2011

"Os meus Poetas..." - PANORAMA

PANORAMA

Pátria vista da fraga onde nasci.

Que infinito silêncio circular!

De cada ponto cardeal assoma

A mesma expressão muda.


É de agora ou de sempre esta paisagem

Sem palavras,

Sem gritos,

Sem o eco sequer duma praga incontida?

Ah! Portugal calado!

Ah! Povo amordaçado

Por não sei que mordaça consentida!


"Miguel Torga - Antologia"

____________________________________________

domingo, 5 de junho de 2011

"Os meus Poetas.... LAMENTO"


LAMENTO



Pátria sem rumo, minha voz parada

Diante do futuro!

Em que rosa-dos-ventos há um caminho

Português?

Um brumoso caminho

De inédita aventura,

Que o poeta, adivinho,

Veja com nitidez

Da gávea da loucura?



Ah, Camões, que não sou, afortunado!

Também desiludido,

Mas ainda lembrado da epopeia….

Ah, meu povo traído,

Mansa colmeia

A que ninguém colhe o mel!.....

Ah, meu pobre corcel

Impaciente,

Alado

E condenado

A choutar nesta praia do Ocidente…


“Miguel Torga – Poesia Completa”

________________________________________________

"Os meus Poetas.....Pátria"

PÁTRIA

Soube a definição na minha infância.

Mas o tempo apagou

As linhas que no mapa da memória

A mestra palmatória

Desenhou.


Hoje

Sei apenas gostar

Duma nesga de terra

Debruada de mar.


"Miguel Torga – Antologia Poética"

_______________________________________________________


Um abraço.
Ana

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Os meus Poetas...... ESPERANÇA

ESPERANÇA

Quero que sejas

A última palavra

Da minha boca.

A mortalha de sol

Que me cubra e resuma.

Mas como à despedida só há bruma

No entendimento

E o próprio alento

Atraiçoa a vontade,

Grito agora o teu nome aos quatro ventos.

Juro-te enquanto posso, lealdade

Por toda a vida e em todos os momentos

"Miguel Torga - Diário Volumes IX a XII
______________________________________________________________________

sábado, 28 de maio de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA…..Da náusea ao vómito….



Náuseas, era o que sentia cada vez que ouvia alguém justificar a crise como sendo devida à falta de produtividade dos portugueses.

Apetecia-lhe falar mal, soltar um palavrão à moda do Norte.

Mas não valia a pena, porque “não há mais cego do que aquele que não quer ver”.

Se compararmos com os nossos “amigos europeus” ganhamos mal, não trabalhamos menos, antes pelo contrário.

Deu consigo a pensar porque é que ninguém punha o dedo na ferida.

Porque é que ninguém dizia que um dos nossos principais problemas era a economia dita paralela, ou mais pomposamente chamada de informal.

Mas, não, ninguém tinha coragem para falar disso e para activar meia dúzia de medidas para acabar com o flagelo.

Também lhe custava pagar tantos impostos mas se todos pagassem as taxas, sobretudo as de IRS, baixariam de certeza.

Ao longo da sua vida profissional, por esses país fora, tinha visto tanta coisa e sempre, embora, não fosse da sua competência, pois não era fiscal das Finanças, sugeria que houvesse transparência nas contas das empresas.

Diziam-lhe que era uma cadeia, que se não facturavam tudo era porque quando compravam também era assim !!!!!

Nas últimas semanas deu consigo a “controlar” as pequenas lojas de bairro.

- No café pagava e ficava a aguardar que lhe dessem o talão de caixa,a maioria das vezes não davam. às vezes a desculpa era que o rolo de papel tinha acabado, mas outras vezes enganavam-se, inclusive, a registar o valor.

Numa dessas vezes tinha-se voltado para o dono do café e tinha dito:

- “Oiça senhor F…eu não sou fiscal das Finanças mas não acha que está a arriscar muito paguei 2,25 euros e registou apenas 50 cêntimos.

A resposta que obtinha era um sorriso amarelo.

- No lugar, à tarde, diziam-lhe:

- “Não precisa do talão pois não? é que acabei de fechar a caixa”.

- “Às seis da tarde? Pensava para consigo! !!!!

Deu consigo a pagar por Multibanco, quase tudo, com a esperança de que pelo menos esses valores fossem declarados.

Em nenhum dos debates a que tinha assistido ninguém, mas mesmo ninguém, tinha tocado no assunto.

Tinha ouvido a alguém ligado “ao meio” que se aguardavam politicas a nível europeu. Que era um área muito sensível. etc. , etc.…. etc

Estava farta de incompetências, e o que mais lhe doía é que sentia que éramos todos cúmplices, na sua maioria passivos, pois estes comportamentos já estavam enraizados na sociedade portuguesa.

Não aguentou e o argumento da redução da Taxa Social e dos dias de feriado para reduzir o custo da mão de obra, já de si tão pouco significativo, nos custos de produção, segundo eles como medida para ultrapassar a crise da economia portuguesa, fê-la passar da náusea ao vómito.

_________________________________________________________________________

UM abraço e bom fim de semana.
Ana
~PS (em latim leia-se) Não sei o que se passou mas durante a semana não consegui entrar no Bloge

sábado, 21 de maio de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA – Faz hoje….. fez hoje cinquenta anos e três meses.


Nos últimos dias a sua Rua andava muito movimentada. Os trabalhadores da Junta de Freguesia andavam numa azáfama.

Ele era cortar a relva ele era plantar novas flores, nos canteiros.

Logo pela manhã, daquele sábado, o clima de festa estava instalado na sua Rua.

Para além da Polícia, viam-se os jovens músicos de uma banda a tentarem “arrumar-se” nos lugares de estacionamento entretanto desocupados para o efeito.

Porquê?

Porque fez hoje cinquenta anos e três meses que começou a Guerra do Ultramar e a autarquia de Sintra homenageou os ex- combatentes, mais propriamente os deficientes das forças armadas, atribuindo o seu nome a uma rotunda.

A emoção sentia-se no ar.

Da janela da sua casa assistiu à cerimónia e não pôde deixar de se comover, conjuntamente com todos aqueles que estavam ali presentes e que viveram a Guerra do Ultramar.

Era tão pequena quando a guerra começou e lembrava-se perfeitamente do ambiente que se viveu, do desgosto das mães portuguesas, do medo dos jovens de nunca mais voltarem.

Lembrou-se das “velhas” cerimónias do 10 de Junho com as viúvas e os órgãos a receberem medalhas. !!!!!!

Lembrou-se da imagem das mães e das namoradas vestidas de negro, vizinhas da sua rua.

Alegrou-se e emocionou-se, com os sorrisos daqueles homens, muitos em cadeiras de rodas que estavam ali a ser homenageados, a ponto de as lágrimas lhe correrem pela cara.

Foi bom ouvir que a História, mesmo a má, aquela que hoje nos “envergonha” deve ser lembrada às novas gerações para que dêem valor à Liberdade.

Que bom foi ouvir aquela banda composta só por jovens a tocar tão bem.

Que belo começo de fim de semana, depois da desgraça que tinha sido o serão da noite anterior passado a ver o debate entre a esquerda e a direita e a ouvir os comentadores, que nem abutres,com muita pressa, a votarem num vencedor quando o que está em causa, para além da crise financeira, é a derrota de todo um ideal de sociedade, de todo um País, pensou para com os seus botões .

___________________________________________________________________________

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Os meus Poetas ......."

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio - Poemas de Deus e do Diabo

_______________________________________

Um abraço
Ana

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"os meus Poetas......VOZ"



Era uma voz que doía,

Mas ensinava.

Descobria,

Mal o seu timbre se ouvia

No silêncio que escutava.


Paraísos, não havia.

Purgatórios, não mostrava.

Limbos, sim, é que dizia

Que os sentia,

Pesados de cobardia,

Lá na terra onde morava.


E morava neste mundo

Aquela voz.

Morava mesmo no fundo

Dum poço dentro de nós.


“Miguel Torga – Poesia Completa
_______________________________________________

Tenham uma boa semana.

Um abraço
Ana

domingo, 15 de maio de 2011

"Os meus Poetas..... PROMISSÃO"



O futuro é o meu reino, e eu caminho!

Lágrimas? Tantas, só de ser artista,

Que, se as relembro, turva-se-me a vista

E não vejo a miragem que adivinho.


Mas nem choro as angústias do passado,

Nem pranteio as presentes;

Vou com os olhos contentes,

Feliz de não chorar por ter chorado


“Miguel Torga – Poesia Completa”

_______________________________________________

terça-feira, 10 de maio de 2011

Histórias de Vida …..Irresponsáveis! Quem eu?



Nos últimos dias tinha-se sentido desalentada, melhor ofendida e, sobretudo, humilhada.

Os comentários que se ouviam acerca da crise em Portugal e dos Portugueses faziam-na sentir assim.

Tinha começado a trabalhar aos 16 anos, após a conclusão do Curso Geral de Comércio, o que já era muito para a época, e prosseguiu os estudos a nível superior, sempre, à sua custa.

Aos 17 anos, mudou-se para uma grande empresa onde fez toda aprendizagem de uma vida. Tanto no aspecto cívico como profissional, trabalhou lá mais de 30 anos.

Em 2003 viu-se confrontada com o desemprego, pois a “sua”grande empresa tinha-se, entretanto, incorporado numa multinacional que ia ser deslocalizada, e deitou mãos à luta. Esteve poucos meses no Desemprego, para o qual tinha descontado uma vida inteira, e criou o seu posto de trabalho.

No inicio de 2008 voltou a sentir o desemprego, porque o Programa onde trabalhava como Consultora na área da Gestão, praticamente a tempo inteiro, foi abruptamente interrompido.

Voltou novamente à luta e deu consigo a ter de pagar comissões para ter trabalho como Consultora !!!!

Para se livrar disso, em 2010, tinha voltado a trabalhar com trabalhadora dependente, com um vencimento, práticamente, igual a metade do que ganhava na Multinacional.

Neste entretanto tinha sido obrigada a gastar as economias de uma vida para custear a educação das suas filhas e as doenças de familiares.

Já não sabia há quantos anos que não fazia férias fora de casa.

Tinha viajado, sim, alguns, muitos, milhares de quilómetros, mas sempre para trabalhar longe de casa e da sua família.

Fazendo o balanço da sua vida nunca tinha vivido acima das suas posses antes pelo contrário.

Finalmente, naquele dia, ao ver o Vídeo que a “Câmara de Cascais”? tinha elaborado para dar resposta aos Finlandeses, sentido que alguém, para além dela, neste País se sentia também humilhado e ofendido.

Deu consigo a pensar que não valia a pena votar nestas eleições porque nada iria mudar, mas à noite, respondeu a uma das suas filhas que mesmo votando em branco todos tínhamos de ir votar.

Claro que não ia votar em branco, apesar de tudo, valia a pena votar nos ideais de toda uma vida, mesmo sentindo que cada vez estavam mais longe de ser alcançados………

_______________________________________________________________________

segunda-feira, 9 de maio de 2011

"Os meus Poetas........"

Porque, e citando Miguel Torga:

“ – As coisas boas esquecem. As más é que não. É que só elas deixam cicatrizes”

Aqui fica:

Lembrança
Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.

Depois,
não sei porquê nem porque não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.

Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite,
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira.

Lisboa, Cadeia do Aljube, 6 de Dezembro de 1939

“Miguel Torga - Diário”

domingo, 1 de maio de 2011

"Os meus Poetas .........."


QUIETUDE


Que poema de paz agora me apetece!

Sereno,

Transparente,

A sugerir somente

Um rio já cansado de correr,

Um doce entardecer,

Um fim de sementeira.

Versos como cordeiros a pastar,

Sem o meu nome, em baixo, a recordar

Os outros que cantei a vida inteira.

Miguel Torga – Diário

____________________________________

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma Alegria para partilhar com @s meus Amig@s

Já sabiam que vou ser avô?

Pois bem...Hoje, fui "oficialmente" informado que se vai Chamar Inês... É uma menina!

Beijos e abraços
ef

quinta-feira, 28 de abril de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA – METRALHAS E COMPANHIA

Cada vez que os via lembrava-se dos irmãos Metralha dos livros do Tio Patinha.

Referia-se às equipas de controlo, de bilhetes/passes, que a CP tinha em algumas estações.

Não sabia se seria pela cor do vestuário, mas lembrava-se, sempre, que os via, dos irmãos Metralha.

Na sua estação, apareciam periodicamente e acompanhados, sempre, por uns seguranças com um aspecto pouco amigável e algo desajustado à situação.

Não é que alguma vez a tivessem tratado menos bem, mas só o facto de vedarem, de uma forma ostensiva, o acesso aos cais de embarque era incomodativo.

Colocavam-se, não sabia se estrategicamente, lado a lado, de forma a não permitirem a passagem a ninguém, sem antes lhe mostrarem os títulos de transporte nome pomposo para os passes.

Por vezes no comboio também aparecia o revisor e na estação do Rossio lá estavam as “máquinas” de controlo vigiadas por seguranças, pelas quais era obrigatório passar o título de transporte.

- “As receitas de bilheteira na CP andam bem controladas”. Pensava ela quando os via.

Mas naquele dia a coisa tinha-se descontrolado.

Na estação de Campolide entrou uma dessas equipas, acompanhada pela escolta dos seguranças e entre os membros estava uma mulher. Devia ser para respeitar as quotas, uma mulher numa equipa maioritariamente masculina cai bem……

Quando os viu entrar pensou que era aparato a mais. Mas mostrou o seu passe e continuou entretida a ler.

Nisto ouviu uma voz feminina dizer, alto e bom som:

- A senhora não sabe que tem que validar o seu título de transporte?

- A tal senhora respondeu-lhe:

- Se não sabe o que anda a fazer aprenda, eu não tenho de validar nada, só tenho de lhe mostrar o passe quando mo pede.

Aí parou de ler.

E é claro que um dos tais seguranças já se tinha aproximado e tinha-se colocado ao lado da fiscal, que entretanto continuava a argumentar com a passageira sobre as suas obrigações.

A passageira que não tinha gostado de se sentir ameaçada resolveu continuar a discussão e perguntar, para a geral, se a CP não teria mais nada em que gastar o dinheiro se era preciso aquilo tudo para controlar os passes.

A situação era incomodativa porque entretanto os ditos fiscais começaram a agrupar-se na sua carruagem e juntos eram muitos.

Lembrou-se, então, da cena a que tinha assistido numa estação de metro, de Londres, na semana anterior.

Face ao congestionamento, nas bilheteiras, o funcionário da estação dirigiu-se aos passageiros que estavam na fila dizendo-lhes para embarcarem que pagariam o bilhete na estação do destino!

Ao comparar as atitudes pensou para consigo como as mesmas funções podem ser exercidas de uma forma tão diferente e, lembrou-se de uma frase que tinha lido há muito tempo:

- “A autoridade quando mal exercida retira toda e qualquer dignidade a quem a pratica.”

domingo, 24 de abril de 2011

"Os meus Poetas....."

Lisboa, Cadeia do Aljube, 30 de Dezembro de 1939

CANÇÃO


À janela da casa,
Ave só na lembrança,
Já nem levanta a asa
Que a mãe lhe deu de herança

A sua dor é clara:
Bate-lhe o sol em cheio;
Um sol branco que vara
Tudo de meio a meio.

Não é sede nem fome
(Água tem ela à mão,
E comida que não come),
Doença má também não.

Falta-lhe a liberdade.
Só essa dor lhe dói.
Mas só por ela há-de
Não ser o ser que foi.

Miguel Torga - Diário

________________________________

E ABRIL ONDE ESTÁ

Quando menos se espera...apareço, pelo menos para desejar boa Páscoa! Mas essencialmente para que todos e cada um reflicta nas suas culpas do caminho que o país está a levar! Aliás este blogue parece o retrato disso. O nosso desinteresse (enquanto cidadãos responsáveis) levou o país ao beco em que estamos hoje. E Abril onde está?


Tal como os direitos adquiridos hoje são postos em causa, aliás negados, amanhã será a democracia a ser-nos negada. É preciso uma outra manhã, não só de esperança mas de confiança, não só de liberdade mas também de responsabilidade. Abril terá de reconstruir-se a cada momento com novos desafios, porque cada dia é um dia diferente. E Abril onde está?


Acho que está nas nossas mãos com as armas do trabalho!

"Os meus poetas...."

PÁTRIA

Flor desenhada no jardim suspenso
Que gravita no céu,
É uma pinta de terra colorida;
Uma rosa de eterna despedida
Que só vive da vida
De cada devotado jardineiro
Se desmaia no mapa ressequida,
Tem de ser mais regada no canteiro

Miguel Torga – Diário 1949

domingo, 10 de abril de 2011

"Os meus Poetas............"

- Bem quero, mas não consigo alhear-me da comédia democrática que substituiu a tragédia autocrática no palco do país. Só nós! Dá vontade de chorar, ver tanta irreflexão. Não aprendemos nenhuma lição política, por mais eloquente que seja. Cinquenta anos a suspirar sem glória, pelo fim de um jugo humilhante, e quando temos a oportunidade de ser verdadeiramente livres escravizamo-nos às nossas obsessões.
Ninguém aqui entende outra voz que não seja a dos seus humores. É humoralmente que elegemos que legislamos, que governamos. E somos uma comunidade de solidões impulsivas a todos os níveis da cidadania. Com oitocentos anos de História, parecemos crianças sociais. Jogamos às escondidas nos corredores das instituições.

Miguel Torga – Diário 1978

____________________________________________________________

sábado, 9 de abril de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA…..Ouvir e ter de calar!!!!!

Na sexta-feira dia de greve na CP tinha posto o despertador para as 6 da manhã para assim poder apanhar boleia e não chegar atrasada ao emprego.

Como acordou mais cedo devido a insónias,ligou a televisão e ficou a saber que a greve tinha sido desconvocada.

-“Menos mal é porque os trabalhadores conseguiram aquilo porque lutavam” - pensou para consigo

Aproveitou o já estar acordada para tratar de algumas tarefas domésticas que não requeriam fazer barulho.

Apanhou o comboio à hora habitual e vinha praticamente vazio!

A meio da viagem deu por si a escutar uma discussão acalorada sobre a desconvocação da greve e o facto de o comboio vir praticamente vazio.

“ Que não era assim em cima da hora, que deviam ter avisado as pessoas, que não havia direito ……….”

Na véspera à noite, na viagem de regresso para casa, a conversa era ao contrário:

- “Que não havia direito, tantas greves e etc. etc. …..”~

Enfim:

“ É-se preso por ter cão e preso por não ter” – pensou para consigo

Como era dia de jogar no Euromilhões dirigiu-se para a casa, a dita da sorte, que abre cedo.

Estava na fila quando ouviu dizer para quem estava à sua frente:

-“Então ó chefe agora desconvoca-se a greve e não se avisam as pessoas, sim porque este senhor é um dos sindicatos”- Justificou-se o empregado.

Entretanto outro empregado da dita casa também reclamou com o cliente que apenas sorria, sobre o facto de a greve ter sido desconvocada, sim porque ele tinha pago o passe e tinha tido que trazer o carro.

Não se conteve e tentou dizer: “ Olhe que ás cinco da manhã eu ouvi no noticiário….”

O empregado nem a deixou terminar e respondeu-lhe:

“ Era o que mais me faltava por causa da greve ter de me levantar de madrugada.”

A confusão já era muita e todas as pessoas davam o seu palpite.

Não se conteve e quando já estava a receber o troco disse para o tal empregado.

- “ Já agora como é que queria ser avisado por SMS? É só pedir amigo.”

Deu os bons dias e saiu.

terça-feira, 5 de abril de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA - Lisboa Fora de Horas

Aquela pomba fazia-a sorrir.

A estação do Rossio às sete da manhã já estava por sua conta.
Andava ligeira de cais para cais, a debicar, e, não se inibia de dar o seu voo e pousar nas escadas rolantes.

Seria sempre a mesma? Não sabia, mas só a via por volta das sete da manhã.
Sobrevivência? Adaptação? Quem sabe!!


Da mesma maneira que por volta dessa hora estava, sempre, um sem abrigo, enrolado num saco cama na base da estatua na Praça D.Pedro IV.

Porquê ali e não numa qualquer porta de loja? Quem sabe!!


Lisboa, a Baixa, tem um rosto e uma luz diferente a esta hora. Parece que não há pressa e há mais humanidade, nos olhares que se cruzam.



Às seis da tarde, na porta de uma loja, sempre na mesma, em pleno centro da Baixa, dorme, sempre, um sem abrigo.

A essa hora está completamente coberto. Repousa a cabeça num daqueles sacos de compras com rodas e dorme profundamente.

Depois das dez da noite está desperto, recostado, e a olhar para quem passa com um olhar que reflecte curiosidade.

Dorme de dia porquê? Por medo da noite? Quem sabe!!!!



Lisboa, a Baixa, a esta hora tem um ar festivo, são os turistas, que parecem não ter frio, que percorrem as nossas ruas e aproveitam tudo o que a cidade tem para oferecer, sobretudo as esplanadas e os restaurantes.

São de todas as nacionalidades. Parece que à noite têm mais visibilidade. Qual a razão? Quem sabe!!!


Não tinha a resposta para estas questões, mas uma coisa sabia, gostava, muito, de Lisboa, da Baixa, fora de horas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Os meus Poetas - Balada de Lisboa"

Balada de Lisboa


Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém

“Manuel Alegre - "Babilónia"

sábado, 2 de abril de 2011

"Os meus Poetas ..UM POEMA"

Não tenhas medo, ouve:

É um poema.

Um misto de coração e de feitiço….

Sem qualquer compromisso,

Ouve-o atentamente,

De coração lavado.

Poderás decorá-lo

E rezá-lo

Ao deitar,

Ao levantar,

Ou nas restantes horas de tristeza.

Na segura certeza

De que mal não te faz.

E pode acontecer que te dê paz….

“Miguel Torga – Diário “

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Os meus Poetas ............................ Tempo"

Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:

— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

"Miguel Torga - Cântico do Homem"

____________________________________________

Por onde andam?
Deixem-se ouvir.

Um abraço Ana

quinta-feira, 31 de março de 2011

"Os meus Poetas ... Exercício Espiritual"

Ouço-os de todo o lado.

Eu é que sou assim,

Eu é que sou assado,

Eu é que sou o anjo revoltado,

Eu é que não tenho santidade….



Quando, afinal, ninguém

Põe nos ombros a capa da humildade,

E vem.


Miguel Torga – Poesia Completa I

quarta-feira, 30 de março de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA…… NUM QUALQUER AEROPORTO

Decididamente, gostava de viajar mas, não gostava particularmente de aeroportos.

Durante algum tempo, por motivos profissionais tinha tido de se deslocar para reuniões no estrangeiro. Normalmente com intervalos de três meses. Foi assim durante muito tempo.

Tentavam, do lado português, ao marcá-las, que as viagens apanhassem o fim-de-semana porque assim conseguiam conhecer as cidades onde iam decorrer as reuniões.

Devido a essa circunstância conheceu algumas cidades alemãs. Ainda hoje gostava, particularmente, de Berlim e de Londres. Tinha-se emocionado a primeira vez que tinha ido a Nuremberga.

Lembrou-se, com um sorriso, da primeira vez que tinha vista um casal homossexual a beijar-se. Tinha sido num, qualquer, aeroporto da Alemanha, há muitos, mesmo muitos, anos, e o seu espanto foi com a naturalidade com que tudo se passava. Ninguém olhava.

Foi também num qualquer aeroporto, alemão, que se cruzou com o Presidente da sua empresa e teve a certeza que o encerramento da mesma, em Portugal, estava por um fio.

E, foi ao despedir-se dos seus colegas estrangeiros, num aeroporto inglês, que sentiu que era a última vez que os ia ver.

Agora a sua ida a um aeroporto tinha tido que ver com questões familiares, uma jovem da sua família, mais uma jovem portuguesa, iria viajar, para o outro lado do Atlântico, para ter uma entrevista, para conseguir o tão desejado estágio na sua área.

Mas, pelo menos as empresas estrangeiras respondiam aos nossos jovens e convidavam-nos a aparecerem, ao contrário das portuguesas que nem respondiam.

Quem sabe se seria desta? Mas a alma ficava a doer-lhe, com a hipótese de ter de se separar por tanto tempo da sua jovem familiar.

Decididamente não gostava de aeroportos !!!!!!!!
____________________________________________________________________

O meus Poetas.......

Falaram-me os Homens em Humanidade

Falaram-me os homens em humanidade,

Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.

Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.

Cada um separado do outro por um espaço sem homens

Alberto Caeiro - "Fragmentos"

__________________________________________________________

Homem do Norte

É do Norte, claro...

Um industrial do Norte foi à Noruega comprar madeira para a sua fábrica de móveis.

À noite, sózinho no bar do hotel, repara numa loira encostada ao bar.Não sabendo falar norueguês, pediu ao barman um bloco e uma caneta.
Desenhou um copo com dois cubos de gelo e mostrou-o à loira.
Ela, sorriu e tomaram um copo.
De seguida começou a tocar uma música romântica.
Ele, pega novamente no bloco, desenha um casal a dançar e mostra-lhe.
Ela levanta-se e vão dançar.
Terminada a música, regressam ao bar e desta vez é a loira que pega no bloco. Desenha uma cama, uma cadeira e uma cómoda e mostra-lhe.
Ele vê e diz:

- "Sim, sim, sou de Paços de Ferreira..."

terça-feira, 29 de março de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA ……….. Origens

Levantou-se com febre alta e resolveu que não ia trabalhar.

Iria, nesse dia, utilizar algumas das muitas das horas a que tinha direito como compensação pelas horas trabalhadas a mais.

Sem saber porquê veio-lhe à ideia a sua terra natal. Uma pequena aldeia em Trás-os-Montes reviu a grande fraga que há logo à entrada.

Recordou -se:

- Da casa do tio – padrinho, á entrada da mesma, e lembrou-se da pequenina casa, de pedra onde lhe tinham dito que tinha nascido.

- Da fonte, que tinha uns degraus que tinham de se descer para ir buscar água.

- Do cheiro a maçãs e figos que vinha das lojas onde se guardavam os frutos para o Inverno.

- Do cheiro a café e sardinhas, petingas, fritas do pequeno -almoço.

E de ter aprendido a gostar de cebola salgada.

Lembrou-se, também, da partida que lhe tinham pregado aos cinco anos, numas férias, em que lhe puseram ratinhos bebés nas mãos dizendo-lhe que eram coelhos pequeninos. O que a sua mãe se tinha rido.

Lembrou-se da lonjura e das horas de viagem que eram necessárias para se chegar a Trás-os-Montes.

É, era uma transmontana, neta de transmontanos e minhotos, com uma mãe nascida e criada no Porto e um pai transmontano, criada, desde os dois meses, em Lisboa, mais propriamente entre Campo de Ourique e S. Bento.

Sempre tinha convivido com migrantes vindos de todo País e ouvira várias vezes a expressão:

- “ Tão trabalhador vê-se que é um homem do norte”

Deu consigo a pensar se seria verdade que existia uma alma nortenha, uma maneira de ser especial.

E lembrou-se de um poema de Miguel Torga:

Identificação

Desta terra sou feito.
Fragas são os meus ossos,
Húmus a minha carne.
Tenho rugas na alma
E correm-me nas veias
Rios impetuosos
Dou poemas agrestes,
E fico também longe
No mapa da nação.
Longe e fora de mão…..
Miguel Torga – Diário

Será que há um estado de alma nortenho ou apenas um estado de alma português?

PS – Parabéns Souto Moura

domingo, 27 de março de 2011

"Os meus Poetas ......"


Os Grandes Indiferentes


Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao reflectir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Para o efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predilecto
Dos grandes indif’rentes.•
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós -próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

Ricardo Reis - "Odes"
____________________________________________

Um bom domingo.

Ana

deuses intestinos

deuses intestinos

sábado, 26 de março de 2011

"Os meus poetas....."

ESPERANÇA

Quero que sejas
A última palavrA
Da minha boca.
A mortalha de sol
Que me cubra e resuma.
Mas como à despedida só há bruma
No entendimento
E o próprio alento
Atraiçoa a vontade,
Grito agora o teu nome aos quatro ventos.
Juro-te enquanto posso, lealdade
Por toda a vida e em todos os momentos

"Miguel Torga - Diário Volumes IX a XII
_______________________________________________

Cuidem-se.
Um abraço
Ana

"Os meus Poetas............"

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões - "Sonetos”
_______________________________________

quarta-feira, 23 de março de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA ….. -“Endoideci “

-“Endoideci “

Pensou a Eva para si própria quando deu por si a tentar abrir a porta da sua casa com o cartão com que abria as portas da entidade onde trabalhava.

O cansaço era muito mas mesmo assim tentou fazer um exercício que fazia, já há alguns anos, quando estava muito cansada.

Fechar os olhos e tentar lembrar-se da roupa que os colegas que trabalhavam com ela, na mesma sala, tinham vestida nesse dia.

Não conseguiu lembrar-se da roupa de nenhum e são apenas quatro.

- “Decididamente que ando a funcionar em piloto automático.”

Fez ainda mais uma tentativa de se lembrar da roupa da colega, do andar de cima, com quem tinha estado reunida uma boa parte da tarde e nada.

Concluiu que o seu médico tinha razão. Não podia continuar a trabalhar mais de dez horas por dia sem sofrer as consequências.

Jantou em família e resolveu tomar um comprimido, tal como lhe tinha sido aconselhado ,pelo seu médico, para dormir. Talvez assim conseguisse desligar.

Antes de adormecer relembrou, ainda, a imagem que tinha visto nesse dia, muito cedo, e que a tinha deixado amargurada, a Mª José a dormir, enroscada como se fosse uma minhoca.

- Como é que um ser humano suporta tanto? Pensou ……
____________________________________________

Cuidem-se.
Um abraço Ana

terça-feira, 22 de março de 2011

"Os meus Poetas"......

PÁTRIA

Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
As linhas que no mapa da memória
A mestra palmatória
Desenhou

Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.

Miguel Torga – Poesia Completa I
_____________________________________

As minhas desculpas agora é que está correcto

Os meus Poetas ......

PáTRIA

Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
As linhas que no mapa da memória
A mestra desenhou a palmatória
Desenho


Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.

"Miguel Torga – Poesia Completa I"
___________________________________________

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Os meus poetas ................................"

Os erros

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

Sophia de Mello Breyner - "O Nome das Coisas"
__________________________________________________

quinta-feira, 17 de março de 2011

Histórias de Vida………. Carências!!!!!!

A Eva saiu de casa a correr para ir ao “lugar” comprar ovos e pão ralado para fazer uns bifes panados.

Entrou no lugar, dirigiu-se para o sítio dos ovos, agarrou, também, no pacote de pão ralado e dirigiu-se para a caixa.

Estava cheia de pressa. Mas a dona da loja insistiu em abrir as caixas dos ovos.

A Eva, ainda, disse:

- Deixe lá vizinha que se estiver algum ovo partido eu venho cá trocar.

A dona do lugar riu-se e disse:

- Não demora nada.

Qual não foi a surpresa da Eva quando em cada uma das caixas faltava um ovo.

A Eva perguntou o que tinha acontecido aos ovos e a senhora explicou-lhe que ultimamente era usual “desaparecerem” ovos.

As pessoas têm vergonha de pedir para vender um ovo e então tiram-nos.

- Não dão por isso? Não sabem quem o faz?

- Damos mas quando são pessoas idosas não dizemos nada.

- Já reparou que as pessoas, mais idosas, com a desculpa de que comem pouco, levam 2 batatas, 2 carcaças 1 peça de fruta, ou às vezes nem isso, apenas, 1 iogurte e 1 carcaça?

- Há gente a passar fome no nosso país vizinha. Concluiu a dona da loja.

A Eva ficou sem resposta mas a caminho de casa lembrou-se das histórias ouvidas na sua meninice:

- Carne só em dias santos, peixe eram sardinhas e pouco mais e uma dava para dois ou três, comia-se muita sopa e muito pão…..passou-se muita fome......

- Tanto Abril, ainda, por cumprir pensou a Eva…
__________________________________________________________________

quarta-feira, 16 de março de 2011

Os meus Poetas ........

TELEGRAMA

Camaradas,cá vou sempre a cantar!
Os mesmos versos, mas com mais coragem.
Além de vós, além de mim, é o lar
Onde se aquece o frio da viagem.

Camaradas, prossigo,
Não sei se doido se ressuscitado.
Mas perdido ou liberto, vai comigo
O poema cantado!

Miguel Torga – Diário 1945

terça-feira, 15 de março de 2011

Os meus poetas..... Eu queria.....

Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes

Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
Para não pensar em coisa nenhuma,
Para nem me sentir viver,
Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido.

Alberto Caeiro- "Poemas Inconjuntos"

sábado, 12 de março de 2011

Histórias de Vida – Os meus/nossos TSUNAMIS

A Eva não se conformava com o estado a que Portugal tinha chegado. Não sabia se era, também, devido ao Inverno rigoroso, das notícias da televisão, do cinismo da classe política, da tragédia no Japão, ou sobre as pequenas tragédias de que ia tomando conhecimento no dia a dia, mas tinha-se-lhe fixado uma dor no peito que não havia meio de passar.

Todos os dias tomava conhecimento das desgraças, dos pequenos TSUNAMIS, que atingiam quem lhe estava próximo e não só.

Na véspera tinha recebido um telefonema de uma amiga que já não via há algum tempo, e o mote voltou a ser a falta de trabalho. A sua amiga a seguir ao fecho da sua empresa e a um problema de saúde, grave, tinha-se reformado, mas como a reforma era baixa, não dava para nada, tinha começado a trabalhar a dias e agora estava sem trabalho.

Sabendo que a Eva trabalhava muitas horas por dia e que precisava de ajuda em casa, propôs-se ajudá-la, mas a Eva embora precisasse de mais ajuda em casa, dada a crise e o medo de voltar a ficar desempregada, não se aventurava a assumir mais compromissos e mais uma vez adiou a decisão de ajudar a sua amiga e a si própria.

Durante a conversa falou-lhe de outra amiga, que também se encontrava sem trabalho e que gostava de falar pessoalmente com a Eva e se possível naquele dia dado que estava perto da sua casa.

A Eva disponibilizou-se a recebê-la em sua casa e durante a conversa a dor no peito aumentou de intensidade. Essa sua amiga tinha estado ligada a um Gabinete de Contabilidade durante alguns, muitos, anos e porque não lhe pagavam o ordenado há mais de um ano resolveu aceitar sair, sem nenhuma indemnização, a troco da carta para o Fundo de Desemprego.

Estava a receber subsídio, mas muito pouco, mesmo muito pouco, e não se conformava com a sua situação de desempregada. Todos os dias respondia a anúncios e enviava curricula mas sem nenhum resultado. Pensou também, ela, que a Eva a poderia ajudar a ultrapassar esta fase.

Mais uma vez a Eva limitou-se a ouvir e a aconselhar a sua amiga a não desistir.
A Eva já tinha passado pela mesma situação da sua amiga e sabia o que ajudava termos alguém com quem falar.

Sentiu, mais uma vez, a dor no peito a aumentar, e lembrou-se de um velho ditado português:

“Elas não matam mas moem”-

“Numa altura em que só se fala das tragédias que se passam nos outros países será que ninguém valoriza os TSUNAMIS que se passam na vida de cada um de nós?” Interrogou-se a Eva.

____________________________________________________________

Cuidem-se.

Um abraço.
Ana

quinta-feira, 10 de março de 2011

Histórias de Vida ……Angústia

Embora estivesse de férias a Eva não conseguia deixar de se sentir angustiada.

Naquela manhã, num serviço público, tinha assistido mais uma vez à falta de respeito para com os seniores, não por parte dos funcionários, mas sim dos próprios familiares.

Uma sénior, muito sénior, na sua vez, tinha-se aproximado do funcionário e quando estava a começar a expor o seu assunto, não é que a filha, ou outra familiar se voltou para ela e disse-lhe:

- Chegue-se para lá e deixe-me ser eu a falar!

A senhora encolheu-se toda e não disse mais nada.

A Eva cada vez se sentia mais desiludida com tudo o que a rodeava.

- Será que as pessoas estão a deixar de ter sentimentos? Perguntava ela a si própria.

Mas o pior daquele dia ainda estava para vir.

Perto da sua casa, no verão passado, tinha aberto uma casa que para além dos arranjos de roupa se propunha também confeccionar roupa. Pertencia a uma recém desempregada que não querendo parar se propôs constituir o seu próprio negócio. Chamou-lhe “Boutique das Costuras”.

A Eva contactou algumas vezes com a Maria e admirava o seu espírito de luta e a sua tenacidade. Tinha preferido arriscar, após o seu posto de trabalho ter sido extinto, criar o seu posto de trabalho, dado que o que iria receber do Fundo de Desemprego era insuficiente para se sustentar.

Para além da confecção da roupa também engomava roupa para fora. Tinha para além do seu posto de trabalho constituído mais dois. Tinha contratado duas modistas.

Quando a Eva se dirigia para casa, à noite, já tarde, lá estava ela em arrumações e não raro convidada a Eva a entrar e mostrava-lhe as últimas revistas de moda.

Nos últimos tempos a Eva via a casa fechada e naquele dia resolveu perguntar a uma amiga se sabia o que tinha acontecido à Maria.

- Morreu! Não soubeste?

- Não. Quando e como foi?

- Ouvi dizer que andava muito enervada, os clientes eram poucos e as contas muitas, naquele dia tinha tido um dia stressante, foi para casa sentiu-se mal, chamou uma vizinha e quando o INEM chegou já estava em coma profundo.

- Tinha 53 anos !!!!

A Eva sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés.

- Como é que indo todos os dias ao café, ao lado da loja, ninguém tinha comentado nada com ela?

- Como é que morre alguém e não se dá importância a isso?

Ficou a saber que vivia sozinha e que segundo o que a sua amiga sabia não tinha familiares.

A Eva não conteve as lágrimas. País RASCA este em que não se dá valor a nada.
__________________________________________________________________

Cuidem-se.
Um abraço do tamnho do mundo.
Ana

domingo, 6 de março de 2011

Os meus Poetas........

De que Serve a Bondade

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não -livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?


Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

Bertold Brecht,
'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'

__________________________________________________________

sábado, 5 de março de 2011

Os meus poetas....

CHUVA

Chove um grossa chuva inesperada,
Que a tarde não pediu mas agradece.
Chove na rua, já de si molhada
Duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,
Uma paz que há-de ser
Uma gota invisível e distante
Na janela, a escorrer….

Miguel Torga Diário -Março 1943

__________________________________________________

Um abraço
Ana Fernandes

terça-feira, 1 de março de 2011

Saltitante......

POis foi Egidio o Virgilio tem razão. Criaste uma naimação toda saltitante.

Serão, ainda, reminiscências dos Power Points do Ulisses?

Um abraço
Ana

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ENA PÁ

Não tenho tido muito tempo para escrever... mas desta vez tenho de fazer um esforço porque esta coisa que o Egídio aqui colocou é mesmo engraçada. Engraçada pelo facto de se mexer, não pelo facto de termos de ir para nova manifestação, pois neste aspecto a coisa é séria. Aliás acho que mais esta jornada a um sábado tem dois aspectos positivos: Primeiro desmente o discurso de os sindicatos só fazerem manifestações para os dirigentes e trabalhadores terem um dia de folga (que todos sabemos não corresponder à verdade, pois sai-se de casa de manhã e regressa-se às tantas da noite); Segundo prova que a luta dos trabalhadores não tem dia nem hora, mas é um processo permanente e contínuo!
Mas, ena pá (desculpa o termo), Egídio desta vez esmeraste-te!

Dia de Indignação e Protesto

domingo, 27 de fevereiro de 2011

HISTÓRIAS DE VIDA……. Medo!!!!!!!!!

- Se te pedirem, entrega tudo não reajas, que isto não está para brincadeiras.

Foi com esta afirmação que a filha mais nova da Eva a abordou logo de manhã. A Eva não estava a perceber o que se passava mas a filha explicou:

- Ontem a … (a amiga, da mesma idade da filha) foi abordada na estação do Metro de ...... e recusou-se a entregar o telemóvel, entretanto o comboio chegou e ela pensava que já estava a salvo e foi sentar-se num banco, mas, os assaltantes entraram na mesma carruagem que ela e sentaram-se ao seu lado. Deram-lhe uma senhora tareia. Ninguém interveio mãe e ela fartou-se de pedir ajuda.

- Porque é que ela não se levantou e puxou o alarme?

- Não podia mãe, meteram-na no meio deles e só querias que visses o estado em que chegou à escola, mãe, tinha a cara feita num oito e a roupa rasgada.

- Ninguém a ajudou mãe. Já viste, mãe, o país em que vivemos.

E não fica por aqui, olha mãe, a …… ,visita regular da casa da Eva, também foi assaltada ontem ás oito horas da noite . Levaram-lhe a carteira com o dinheiro.

- Estava sozinha?

- Não mãe estava com o … e o …..

- E eles não fizeram nada?

- Tiveram de entregar as carteiras também.

- Levaram-lhes também os documentos? Perguntou a Eva.

- Nós não andamos com os documentos na mesma carteira mãe . Assim não se perde tudo.

A Eva tentou sossegar a filha dizendo-lhe que não era assim em todo o lado e a filha não se convencia.

- São putos como nós que fazem os assaltos e, não vale a pena reagir porque eles andam armados com navalhas. E não são só os de cor, também andam brancos nos grupos a assaltar.

- Como vocês não são de certeza, argumentou a Eva, tu não andas por aí a assaltar ninguém.

A Eva continuou a conversar com a sua filha. Que com apenas catorze anos já dominava toda uma série de estratégias, que tinha aprendido com os amigos da mesma idade, para não ser assaltada:
- Não trazer o telemóvel na mochila, não trazer o dinheiro todo junto, trazer os documentos noutra carteira, não andar sozinha, não atravessar o jardim mesmo se ainda for de dia, etc. etc. etc.

A Eva lembrou-se dos seus catorze anos e da liberdade que tinha com essa idade e, sentiu pena da sua filha e de todos os que têm de lidar com o medo quando têm é idade para brincar.
___________________________________________

Um abraço
Ana

Os meus poetas.....

Poeminha sobre o Tempo

O despertador desperta,
acorda com sono e medo;
por que a noite é tão curta
e fica tarde tão cedo?

" Millôr Fernandes -Pif-Paf"

____________________________

Um abraço e um bom domingo
Ana

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os meus poetas......

Retrato do Herói

Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.

Ary dos Santos, - 'Fotosgrafias'

_________________________________________

Um abraço
Ana

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os meus poetas....

Demissão

Este mundo não presta, venha outro.

Já por tempo de mais aqui andamos

A fingir de razões suficientes.

Sejamos cães do cão: sabemos tudo

De morder os mais fracos, se mandamos,

E de lamber as mãos, se dependentes.


José Saramago, "Os Poemas Possíveis"

________________________________________________________________

Um abraço
Ana

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Novamente...

Há dias em que a saudade, será da solidão/cansaço, aperta e a lembrança dos amigos, doi.

Ontem foi um desses dias. Cansada, já eram oito da noite, resolvi fazer uma caminhada desde a Assembleia da República até à estação do Rossio. Em vez de apanhar o 28, vim a pé.

Os meus passos levaram-me a passar numa rua onde morei e brinquei em pequena e consegui rever as imagens do passado. Também vi o passado em ruínas, a empresa onde o meu pai trabalhou, fechada, com a fachada completamente degradada!!!!

Ao passar pelo chiado olhei para os armazéns e vieram-me à ideia alguns almoços de sábado. Lembram-se?

Lembrei-me de todos e mais uma vez tentei arranjar justificação para as ausências. Será que existe?

É evidente que alguns de nós criaram expectativas. Criam-se sempre quando damos de nós.O ser humano é assim. Não é preciso muito, às vezes, basta um sorriso para nos sentirmos compensados.

Mas será que a insatisfação sentida por nos terem criado expectativas que saíram goradas, não deveria ser manifestada directamente junto dos que criaram esses mesmas expectativas!!!!!

Não sou de sonhar muito, a dormir, mas ontem sonhei.

Sonhei com o grupo, sonhei com o reencontro tantas vezes adiado. Com o almço que nunca mais acontece.

Será que foi do chiado?

Não, foi porque continuo a tentar que o espirito de grupo se mantenha, continuo a tentar que comuniquemos quanto mais não seja através do blog.

Não há dia que não o abra a ver se há mensagens novas.

Hoje tive uma grande alegria ao ver a mensagem do Jaime, afinal são sempre os mesmos, mas não deixa de ser uma alegria quando se deixam ouvir.

Já chega de lamentações, marquemos o almoço e encontremo-nos.

Um abraço do tamanho do mundo e um beijo para os persistentes

Ana

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mas...Novamente


Amigos, já o expressei nos comentários e volto a fazê-lo aqui. Aquilo que fizeram ao Amigo Egídio, não se faz. É uma desconsideração pela pessoa, mas também pelo "formador".


Mas... peço desculpa pelo afastamento mas acreditem, o trabalho tem apertado muito e muito.

Apesar do IBJC, nunca me ter dito nada, apesar de no início me terem dito que a CGTP tinha muita necessidade de formadores para a região centro (interior), mas...nada.


Hoje marquei as minhas férias, penso que merecidas, e o meu pensamento foi novamente para um jantar que já por diversas vezes esteve para acontecer, mas... nada. Desta vez, e quando chegar o SOL, eu e o Luís marcaremos um jantar tipicamente beirão para que quiser. Nem que sejamos os mesmos sempre disponíveis, mas o jantar vai ocorrer.

Bem prometo vir novamente e com mais tempo.


Ah.... um beijo para a Ana pelos magníficos poetas que nos deixa. E um abraço para todos vós..

Jaime Matos

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

" Os meus poetas"........

Não me Peçam Razões...


Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago em "Os Poemas Possíveis"

_____________________________________________

Um abraço
Ana

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma Experiência que chega ao fim...

Amig@s,
Há tempos que não passava por aqui mas tenho lido com todo o gosto as histórias da História que a Ana nos vai contando...
O trabalho a "triplicar" que tenho tido não me tem deixado mnuito tempo, embora isso não sirva de desculpa, confesso.
Da minha parca experiência de formador (50 horas, 50 sessões) com aqueles rapazes e raparigas que vos falei há tempos e apesar de no início ter tido alguma (muita) angustia com aquele processo de gente sem qualquer tipo de interesse por algo, e apesar da primeira avaliação se ter ficado apenas positivo para 1/3 dos participantes, fui conseguindo passo a passo, confesso que com dose de paciência redobrada e também porque alguns desistiram, fazer subir VERTIGINOSAMENTE a turma em interesse e consequentemente na segunda e terceira avaliações. Claro que não estou a falar de pessoas normais mas, considero muito significativa a evolução que venho a verificar. Os 3 Manuais que elaborei deram-me também algum suporte para poder exigir uma atitude mais concertada.

Mas a surpresa aconteceu inesperadamente.
Há umas semanas atrás, depois de um teste em que formandos e formador estavam a fazer considerações sobre o mesmo, sou chamado aos serviços administrativos para atender um telefonema urgente de Lisboa da Directora pedagógica.
A conversa não podia ser mais directa, aliás, feita da mesma forma que lha ordenaram, assim:
Egídio, a partir de hoje você termina a formação para nós! Perguntei se havia alguma causa e a resposta foi também directa: De todos os pontos de vista quer técnicos, quer pessoais não há nada a dizer, antes pelo contrário. Deram-me a informação de que lhe deveria dizer que são ordens do Matos Cristovão e do Álvaro Domingos. Bem...Sem que eu soubesse o que essa gente tem a ver com a formação, ainda perguntei quem são eles porque eu sei quem são, e me disseram que são da Administração do Centro de formação. Pena eu não ter sabido isso antes.
Quem são esses perguntarão vocês... São indivíduos, funcionários da EDP que no tempo do Cavaquismo fundaram um Pseudo-sindicato com dinheiros da EDP e que obviamente pertenciam ou ainda pertencem aos tsd, naturalmente em oposição de fase aos Sindicatos da CGTP.Essa gente que entretanto perdeu toda a expressão na representação de trabalhadores na EDP e na EDA, dedicou-se à formação (negócio chorudo e com intenções duvidosas nas suas ligações aos PALOP), para levarem a vidinha fora da empresa utilizando os tempos sindicais para essa tal vidinha.
Consultando a Internet verifiquei de facto a quem pertencia aquele Centro de formação.

Enfim...fui despedido sem qualquer justificação e aqueles "putos" ficarão entregues sabe-se lá a quem...
É esta gente que tendo este poder, esmaga quem quer...Imagine-se só, aqueles que fazem da formação a sua actividade profissional principal, os "sapos" que terão que engolir vivos.

Assim vai a formação no país de Cavaco e Sócrates.

Um Grande Abraço para tod@s
Egídio

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Histórias de vida - Sobreviver é preciso….

A Eva estava decidida a falar com a Mª José. Não fazia sentido continuar preocupada.

A Mª José parecia-lhe bem mas a rua não era sítio para ninguém viver e embora não fosse rica a Eva sempre podia ajudar, contribuindo com algum dinheiro para a comida.

Naquela manhã tomou a direcção da Praça onde a Mª José costumava, agora, dormir. Viu-a a brincar com o cãozinho em cima do saco cama.

A Eva parou deu-lhe os bons dias, a Mª José voltou-se, e, desta vez , não desviou o olhar respondendo-lhe , também, com um bom dia.

- Como vai não a tenho visto?

- Tenta-se sobreviver.

- Consegue dormir?

- Aos bocados, mas sempre alerta por causa dos perigos que são muitos, nem calcula o que se passa nas ruas à noite.

A Eva insistiu, embora com algum receio, nas perguntas e respostas habituais ,que se podiam resumir em lembrar à Mª José que não devia de desistir, que devia continuar a lutar para sair da rua.

A Mª José respondeu-lhe que não, que não desistia que continuava a tentar obter o rendimento de inserção, visto que até tinha trabalhado durante alguns anos, para conseguir obter um espaço para morar onde pudesse ter o cãozinho consigo.

Referiu, ainda que não havia um abrigo, nem um, que lhe permitisse entrar com o cão, que até é dos pequeninos e que por isso tinha de continuar a dormir na rua.

Conversaram ainda um bocado e a Eva perguntou-lhe se já tinha tomado o pequeno - almoço.

A Mª José respondeu-lhe com um não se incomode e um encolher de ombros.

A Eva entregou-lhe todas as moedas que tinha na carteira e, admirou-se como é que alguém com uma vida tão dura ainda conseguia sorrir com doçura.

- Que Deus a ajude e a abençoe foi a frase que ouviu quando disse que não era para agradecer e que só lamentava não a poder ajudar mais.

Olhou para trás e a Mª José já estava a arrumar a sua casa, a deixar livre a sua porta de loja, não sem antes ter posto a capa no cãozinho para o proteger do frio !!!!!

A Eva lembrou-se então de outro sem abrigo com quem também costumava conversar. noutro lado da Baixa, a quem há falta de saber o nome se habituara, mentalmente, a tratar por Latinhas , e que entretanto tinha conseguido sair da rua .

- O que seria feito dele?

A Eva sorriu ao lembrar-se da flor, feita de lata, que ele lhe tinha oferecido um dia, depois das, muitas, manhãs em que conversaram , sempre, um bocadinho, sobre a vida dele e que enfeitava, agora, a sua secretária.

-------------------------------------------------------------------

Um abraço e deixem-se ouvir

Ana

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os meus Poetas.......

A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.

Miguel Torga – Diário 27/12/1941

___________________________________________________________

Um abraço Ana

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Histórias de vida ......

A Eva sentia-se muito mas mesmo muito cansada. O mês de Janeiro tinha sido terrível em termos de trabalho e o de Fevereiro ainda se avizinhava pior. Pensava em tudo isto quando às oito e meia da noite se dirigia para a estação do Rossio para apanhar o comboio para casa .

Estava tão cansada que nem lhe apetecia olhar para as montras e nem se apercebia do que a rodeava. Sentia-se alheada apenas com uma ideia determinada: chegar o mais depressa possível a casa e ir dormir.

Tomou o caminho habitual e mais uma vez pensou que rara era a vez que passava por aquele local que não pensasse na Mª José e no seu cãozinho. Há já algum tempo que não a via, nem mesmo no local onde costumava dormir. Como estariam?

Olhou e ao longe pareceu-lhe ver um sem abrigo no sítio da “casa “ da Mª José. Quando se aproximou viu que afinal a Mª José tinha um ou uma vizinha e não pôde deixar de se enternecer com a cena que viu.

A Mª José já tinha a sua cama feita, o saco cama até tinha dobra, como se faz quando se abre a cama em nossa casa, e, estava de joelhos, de costas voltadas para os transeuntes a dar biscoitos ao seu cãozinho que estava deitado com uma mantinha por cima.
Na montra ao lado estava outro, ou outra sem abrigo já a dormir completamente tapado/a.

A Eva sentiu vontade de perguntar à Mª José como ia, mas conteve-se. A oportunidade havia de chegar. A Eva já tinha reparado que a Mª José tinha os seus momentos e que gostava de ser ela a provocar a aproximação e que não gostava que as outras pessoas interferissem na sua vida.

A Eva antes de se afastar olhou, mais uma vez, e reparou que ao lado do saco com comida estava uma chávena com café ….. solidariedade …… quem sabe?

___________________________________________________________________________

Um abraço
Ana

Passeio BTT Aboboreiras