A Eva não se conformava com o estado a que Portugal tinha chegado. Não sabia se era, também, devido ao Inverno rigoroso, das notícias da televisão, do cinismo da classe política, da tragédia no Japão, ou sobre as pequenas tragédias de que ia tomando conhecimento no dia a dia, mas tinha-se-lhe fixado uma dor no peito que não havia meio de passar.
Todos os dias tomava conhecimento das desgraças, dos pequenos TSUNAMIS, que atingiam quem lhe estava próximo e não só.
Na véspera tinha recebido um telefonema de uma amiga que já não via há algum tempo, e o mote voltou a ser a falta de trabalho. A sua amiga a seguir ao fecho da sua empresa e a um problema de saúde, grave, tinha-se reformado, mas como a reforma era baixa, não dava para nada, tinha começado a trabalhar a dias e agora estava sem trabalho.
Sabendo que a Eva trabalhava muitas horas por dia e que precisava de ajuda em casa, propôs-se ajudá-la, mas a Eva embora precisasse de mais ajuda em casa, dada a crise e o medo de voltar a ficar desempregada, não se aventurava a assumir mais compromissos e mais uma vez adiou a decisão de ajudar a sua amiga e a si própria.
Durante a conversa falou-lhe de outra amiga, que também se encontrava sem trabalho e que gostava de falar pessoalmente com a Eva e se possível naquele dia dado que estava perto da sua casa.
A Eva disponibilizou-se a recebê-la em sua casa e durante a conversa a dor no peito aumentou de intensidade. Essa sua amiga tinha estado ligada a um Gabinete de Contabilidade durante alguns, muitos, anos e porque não lhe pagavam o ordenado há mais de um ano resolveu aceitar sair, sem nenhuma indemnização, a troco da carta para o Fundo de Desemprego.
Estava a receber subsídio, mas muito pouco, mesmo muito pouco, e não se conformava com a sua situação de desempregada. Todos os dias respondia a anúncios e enviava curricula mas sem nenhum resultado. Pensou também, ela, que a Eva a poderia ajudar a ultrapassar esta fase.
Mais uma vez a Eva limitou-se a ouvir e a aconselhar a sua amiga a não desistir.
A Eva já tinha passado pela mesma situação da sua amiga e sabia o que ajudava termos alguém com quem falar.
Sentiu, mais uma vez, a dor no peito a aumentar, e lembrou-se de um velho ditado português:
“Elas não matam mas moem”-
“Numa altura em que só se fala das tragédias que se passam nos outros países será que ninguém valoriza os TSUNAMIS que se passam na vida de cada um de nós?” Interrogou-se a Eva.
____________________________________________________________
Cuidem-se.
Um abraço.
Ana
Sem comentários:
Enviar um comentário