Levantou-se com febre alta e resolveu que não ia trabalhar.
Iria, nesse dia, utilizar algumas das muitas das horas a que tinha direito como compensação pelas horas trabalhadas a mais.
Sem saber porquê veio-lhe à ideia a sua terra natal. Uma pequena aldeia em Trás-os-Montes reviu a grande fraga que há logo à entrada.
Recordou -se:
- Da casa do tio – padrinho, á entrada da mesma, e lembrou-se da pequenina casa, de pedra onde lhe tinham dito que tinha nascido.
- Da fonte, que tinha uns degraus que tinham de se descer para ir buscar água.
- Do cheiro a maçãs e figos que vinha das lojas onde se guardavam os frutos para o Inverno.
- Do cheiro a café e sardinhas, petingas, fritas do pequeno -almoço.
E de ter aprendido a gostar de cebola salgada.
Lembrou-se, também, da partida que lhe tinham pregado aos cinco anos, numas férias, em que lhe puseram ratinhos bebés nas mãos dizendo-lhe que eram coelhos pequeninos. O que a sua mãe se tinha rido.
Lembrou-se da lonjura e das horas de viagem que eram necessárias para se chegar a Trás-os-Montes.
É, era uma transmontana, neta de transmontanos e minhotos, com uma mãe nascida e criada no Porto e um pai transmontano, criada, desde os dois meses, em Lisboa, mais propriamente entre Campo de Ourique e S. Bento.
Sempre tinha convivido com migrantes vindos de todo País e ouvira várias vezes a expressão:
- “ Tão trabalhador vê-se que é um homem do norte”
Deu consigo a pensar se seria verdade que existia uma alma nortenha, uma maneira de ser especial.
E lembrou-se de um poema de Miguel Torga:
Identificação
Desta terra sou feito.
Fragas são os meus ossos,
Húmus a minha carne.
Tenho rugas na alma
E correm-me nas veias
Rios impetuosos
Dou poemas agrestes,
E fico também longe
No mapa da nação.
Longe e fora de mão…..
Miguel Torga – Diário
Será que há um estado de alma nortenho ou apenas um estado de alma português?
PS – Parabéns Souto Moura
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