quinta-feira, 10 de março de 2011

Histórias de Vida ……Angústia

Embora estivesse de férias a Eva não conseguia deixar de se sentir angustiada.

Naquela manhã, num serviço público, tinha assistido mais uma vez à falta de respeito para com os seniores, não por parte dos funcionários, mas sim dos próprios familiares.

Uma sénior, muito sénior, na sua vez, tinha-se aproximado do funcionário e quando estava a começar a expor o seu assunto, não é que a filha, ou outra familiar se voltou para ela e disse-lhe:

- Chegue-se para lá e deixe-me ser eu a falar!

A senhora encolheu-se toda e não disse mais nada.

A Eva cada vez se sentia mais desiludida com tudo o que a rodeava.

- Será que as pessoas estão a deixar de ter sentimentos? Perguntava ela a si própria.

Mas o pior daquele dia ainda estava para vir.

Perto da sua casa, no verão passado, tinha aberto uma casa que para além dos arranjos de roupa se propunha também confeccionar roupa. Pertencia a uma recém desempregada que não querendo parar se propôs constituir o seu próprio negócio. Chamou-lhe “Boutique das Costuras”.

A Eva contactou algumas vezes com a Maria e admirava o seu espírito de luta e a sua tenacidade. Tinha preferido arriscar, após o seu posto de trabalho ter sido extinto, criar o seu posto de trabalho, dado que o que iria receber do Fundo de Desemprego era insuficiente para se sustentar.

Para além da confecção da roupa também engomava roupa para fora. Tinha para além do seu posto de trabalho constituído mais dois. Tinha contratado duas modistas.

Quando a Eva se dirigia para casa, à noite, já tarde, lá estava ela em arrumações e não raro convidada a Eva a entrar e mostrava-lhe as últimas revistas de moda.

Nos últimos tempos a Eva via a casa fechada e naquele dia resolveu perguntar a uma amiga se sabia o que tinha acontecido à Maria.

- Morreu! Não soubeste?

- Não. Quando e como foi?

- Ouvi dizer que andava muito enervada, os clientes eram poucos e as contas muitas, naquele dia tinha tido um dia stressante, foi para casa sentiu-se mal, chamou uma vizinha e quando o INEM chegou já estava em coma profundo.

- Tinha 53 anos !!!!

A Eva sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés.

- Como é que indo todos os dias ao café, ao lado da loja, ninguém tinha comentado nada com ela?

- Como é que morre alguém e não se dá importância a isso?

Ficou a saber que vivia sozinha e que segundo o que a sua amiga sabia não tinha familiares.

A Eva não conteve as lágrimas. País RASCA este em que não se dá valor a nada.
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Cuidem-se.
Um abraço do tamnho do mundo.
Ana

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