sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Histórias de vida - Sobreviver é preciso….

A Eva estava decidida a falar com a Mª José. Não fazia sentido continuar preocupada.

A Mª José parecia-lhe bem mas a rua não era sítio para ninguém viver e embora não fosse rica a Eva sempre podia ajudar, contribuindo com algum dinheiro para a comida.

Naquela manhã tomou a direcção da Praça onde a Mª José costumava, agora, dormir. Viu-a a brincar com o cãozinho em cima do saco cama.

A Eva parou deu-lhe os bons dias, a Mª José voltou-se, e, desta vez , não desviou o olhar respondendo-lhe , também, com um bom dia.

- Como vai não a tenho visto?

- Tenta-se sobreviver.

- Consegue dormir?

- Aos bocados, mas sempre alerta por causa dos perigos que são muitos, nem calcula o que se passa nas ruas à noite.

A Eva insistiu, embora com algum receio, nas perguntas e respostas habituais ,que se podiam resumir em lembrar à Mª José que não devia de desistir, que devia continuar a lutar para sair da rua.

A Mª José respondeu-lhe que não, que não desistia que continuava a tentar obter o rendimento de inserção, visto que até tinha trabalhado durante alguns anos, para conseguir obter um espaço para morar onde pudesse ter o cãozinho consigo.

Referiu, ainda que não havia um abrigo, nem um, que lhe permitisse entrar com o cão, que até é dos pequeninos e que por isso tinha de continuar a dormir na rua.

Conversaram ainda um bocado e a Eva perguntou-lhe se já tinha tomado o pequeno - almoço.

A Mª José respondeu-lhe com um não se incomode e um encolher de ombros.

A Eva entregou-lhe todas as moedas que tinha na carteira e, admirou-se como é que alguém com uma vida tão dura ainda conseguia sorrir com doçura.

- Que Deus a ajude e a abençoe foi a frase que ouviu quando disse que não era para agradecer e que só lamentava não a poder ajudar mais.

Olhou para trás e a Mª José já estava a arrumar a sua casa, a deixar livre a sua porta de loja, não sem antes ter posto a capa no cãozinho para o proteger do frio !!!!!

A Eva lembrou-se então de outro sem abrigo com quem também costumava conversar. noutro lado da Baixa, a quem há falta de saber o nome se habituara, mentalmente, a tratar por Latinhas , e que entretanto tinha conseguido sair da rua .

- O que seria feito dele?

A Eva sorriu ao lembrar-se da flor, feita de lata, que ele lhe tinha oferecido um dia, depois das, muitas, manhãs em que conversaram , sempre, um bocadinho, sobre a vida dele e que enfeitava, agora, a sua secretária.

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Um abraço e deixem-se ouvir

Ana

1 comentário:

efernandes disse...

Bemm hajas Ana.
Beijinhos

Passeio BTT Aboboreiras