- Se te pedirem, entrega tudo não reajas, que isto não está para brincadeiras.
Foi com esta afirmação que a filha mais nova da Eva a abordou logo de manhã. A Eva não estava a perceber o que se passava mas a filha explicou:
- Ontem a … (a amiga, da mesma idade da filha) foi abordada na estação do Metro de ...... e recusou-se a entregar o telemóvel, entretanto o comboio chegou e ela pensava que já estava a salvo e foi sentar-se num banco, mas, os assaltantes entraram na mesma carruagem que ela e sentaram-se ao seu lado. Deram-lhe uma senhora tareia. Ninguém interveio mãe e ela fartou-se de pedir ajuda.
- Porque é que ela não se levantou e puxou o alarme?
- Não podia mãe, meteram-na no meio deles e só querias que visses o estado em que chegou à escola, mãe, tinha a cara feita num oito e a roupa rasgada.
- Ninguém a ajudou mãe. Já viste, mãe, o país em que vivemos.
E não fica por aqui, olha mãe, a …… ,visita regular da casa da Eva, também foi assaltada ontem ás oito horas da noite . Levaram-lhe a carteira com o dinheiro.
- Estava sozinha?
- Não mãe estava com o … e o …..
- E eles não fizeram nada?
- Tiveram de entregar as carteiras também.
- Levaram-lhes também os documentos? Perguntou a Eva.
- Nós não andamos com os documentos na mesma carteira mãe . Assim não se perde tudo.
A Eva tentou sossegar a filha dizendo-lhe que não era assim em todo o lado e a filha não se convencia.
- São putos como nós que fazem os assaltos e, não vale a pena reagir porque eles andam armados com navalhas. E não são só os de cor, também andam brancos nos grupos a assaltar.
- Como vocês não são de certeza, argumentou a Eva, tu não andas por aí a assaltar ninguém.
A Eva continuou a conversar com a sua filha. Que com apenas catorze anos já dominava toda uma série de estratégias, que tinha aprendido com os amigos da mesma idade, para não ser assaltada:
- Não trazer o telemóvel na mochila, não trazer o dinheiro todo junto, trazer os documentos noutra carteira, não andar sozinha, não atravessar o jardim mesmo se ainda for de dia, etc. etc. etc.
A Eva lembrou-se dos seus catorze anos e da liberdade que tinha com essa idade e, sentiu pena da sua filha e de todos os que têm de lidar com o medo quando têm é idade para brincar.
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Um abraço
Ana
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