Não havia maneira de a Eva se sentir confortável. Estava sentada num auditório da antiga FIL à espera que a formação, a que ia assistir, começasse, e o frio que se fazia sentir era mais que muito.
Já há alguns dias, que se sentia angustiada por causa do frio, não por sua causa mas sim pelos sem abrigos.
A Mª José, a sem abrigo, a do cãozinho, estava outra vez a dormir na rua.
A Eva não queria crer que isso fosse possível porque a Maria José quando tinha perdido o anexo onde habitualmente dormia, tinha-se organizado de imediato e tinha-lhe dito, inclusive, que estava a pernoitar num Albergue e que o cãozinho, como não eram permitidos animais no albergue , durante o dia estava com ela e à noite ficava numa União Zoo… a troco do trabalho da Mª José durante algumas horas.
Dava, gosto vê-la. Vi-a várias vezes limpa e com muito melhor aspecto.
Voltou para a rua vá lá saber-se porquê.
A Eva tinha-a abordado e a Mª José dissera-lhe que o cãozinho não se tinha adaptado e que tinha sido forçada a voltar para a rua, mas quando a via já não lhe pedia nenhuma moeda, como se a quisesse evitar, como se a Eva se tivesse metido onde não devia.
Quase no Natal a Eva voltou à fala com ela e perguntou-lhe onde dormia agora. Não é que a Eva não soubesse porque passava todos os dias por ela logo de manhã.
A Eva dormia à porta de entrada de uma grande sapataria na Baixa de Lisboa. Nesse dia a Mª José tinha comentado que só desejava que o Verão chegasse e que estava triste por ir passar o Natal na rua.
Todos os dias a Eva, por volta das 8.30 da manhã, vê a a Mª José a dormir no seu saco cama, umas vezes directamente no chão de pedra, , num dia, muito mas muito frio estava deitada com uma esteira por baixo. Do cãozinho nem sinal.
Na sexta feira a Mª José estava deitada, no sítio habitual, com restos de comida ao lado e dormia profundamente. A Eva parou e esperou um bocadinho para ver se ela acordava para falar com ela, mas a Mª José não acordou.
Como é quem alguém deitado ao relento pode dormir assim? pensou a Eva
A formação já tinha começado e a Eva não se conseguia concentrar.
-“Será que a Mª José e os outros sem abrigo têm sobrevivido com este frio?
_____________________________________________________________________________________
Um abraço
Ana
Sem comentários:
Enviar um comentário