Há muito tempo que já nada do que se passava, no seu dia-a-dia, no País, a conseguia tirar do sério.
A sua capacidade de resistência, à falta de educação dos que a rodeavam, no dia-a-dia, dir-se-ia que era quase ilimitada. Conseguia aguentar, tudo,com um sorriso.
Mas, naquela dia, alguma coisa tinha mudado. Deu consigo quase a saltar para cima da senhora, que ao seu lado, no comboio, sem o mínimo sinal de decoro, limava as unhas com uma fúria como se o destino do mundo dependesse do grau de perfeição das ditas . O barulho que a lima provocava, era-lhe insuportável.
Mas o pior ainda estava para vir. À sua frente sentou-se um homem, na casa dos trinta, que, quando se mexia não cheirava propriamente bem.
Tentou concentrar-se na leitura, mas os contos de Miguel Torga, que não são propriamente leves, também não ajudavam.
A meio da viagem levantou-se para ceder passagem. Não compreendia como os passageiros continuavam sentados quando alguém precisava de sair, sem cederem passagem, dada a exiguidade do espaço que separa os bancos. Claro que a passageira não se dignou agradecer e deu consigo quase a “rosnar” a dizer entre dentes mas de forma audível “OBRIGADA”.
Andou o dia todo irritada, embora não o demonstrasse. Finalmente à noite compreendeu a sua irritação quando ouviu falar num qualquer programa de televisão, da legislação que interditava a apresentação dos pedidos de reforma antecipada.
Afinal a sua dor, o seu mal estar, a sua irritação, era porque :
- TINHAM-LHE ROUBADO, MAIS, MAIS UM PEDAÇO DE LIBERDADE.Deu consigo a falar sozinha:
Que foi que fizemos para merecer um Governo como este? O que era sustentável(Segurança Social) há 3 meses, agora já não o é?
Que herança, que exemplos, deixamos para as gerações futuras se permitimos que nos tirem (ROUBEM) todos os direitos?
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Bom fim de semana
Um abraço
Ana
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